A primeira vez que Washington bateu no peito para comemorar um gol faz quase 20 anos. Era fevereiro de 2004, na Baixada. Depois de 14 meses afastado do futebol, o centroavante colocou uma bola na rede do Paraná. As duas torcidas o aplaudiram, e o Brasil parou para ver sua formidável história de redenção.
Naquele ano, Washington se tornaria o "Coração Valente", o maior artilheiro do Brasileirão, com incríveis 34 gols. A marca dificilmente superável ajudou a levar aquele time fantástico ao vice-campeonato nacional e à vaga na Libertadores em 2005.
A história do brasiliense Washington Stecanela Cerqueira é um roteiro que alguns roteiristas de sessão da tarde poderiam achar exagerado. Com seus 1,90 m de altura, ele sempre soube fazer gols, mas também sempre foi um jogador zicado. No começo da carreira, teve uma fratura no pé, outra no tornozelo, o mesmo que também teve ligamentos rompidos.
Depois, perdeu 10 quilos até descobrir que tinha diabetes tipo 1. Mas se recuperou de todas essas adversidades e chegou à seleção brasileiro e ao Fenerbahce fazendo muitos gols. Foi lá que teve um princípio de infarto e descobriu que tinha obstrução grave das artérias. Os turcos o jogaram ao mar e ele veio bater no CT do Caju, espaço famoso por recuperar jogadores desenganados.
Em Curitiba, o CAP apostou nele durante quase um ano e meio e Washington encontrou no trabalho do cardiologista Constantino Constantini a chance de voltar a trabalhar. O camisa 9 pagou com gols. Muitos gols. De todos os jeitos, na campanha de 2004. De pênalti, de falta, de cabeça, impossíveis, da vitória em Atletiba...
Faltaram, porém, os gols em dois jogos decisivos: o de misericórdia em Erechim bateu na trave. Em São Januário, em três oportunidades, o do título preferiu não entrar. Mas se o futebol de fato é a mais importante entre as coisas menos importantes, o que é um título diante da vida de alguém?
Como disse o personagem do independentista escocês William Wallace, vivido por Mel Gibson no filme do qual emprestou o apelido: “Todos os homens morrem, mas nem todos realmente vivem”. O renascimento de Washington no CT do Caju foi um dos momentos extraordinários do centenário de um clube sem igual.