Dois eventos extraordinários com epicentro na Baixada compõem o rito de passagem mais importante da minha vida. O primeiro é o show do Raul Seixas no ginásio do Athletico em julho de 1989.
Raulseixista imberbe, fui impedido pela autoridade materna de comparecer. Em dezembro de 1990, porém, com 13 anos incompletos burlei a vigilância familiar para embarcar na famigerada excursão a Ponta Grossa, grande e irresponsável catarse coletiva da história atleticana.
Em ambos os casos, houve participação decisiva de Renato Sozzi, então o presidente de uma das entidades mais importantes do meu mundo, a Torcida Organizada Os Fanáticos. Renato é filho de uma família de doentes atleticanos. Seu pai tinha uma oficina mecânica no centro em que os posteres do CAP disputavam lugar com os de mulheres nuas. Começou a frequentar o estádio em 1969 e, como toda a molecada de sua geração, é grande fã de Sicupira.
Em 1977, fez parte do grupo que criou A TOF ao lado de amigos como José Luís Belotto, Americo Vespúcio e Nelson do Rosário, entre outros nomes históricos. A torcida nasceu como uma organização de cariz anarquista, com estrutura horizontalizada, mas quando seu futuro dependeu de algum sentido de liderança, o nome de Renato foi colocado e ele ocupou o cargo até meados da década de 1990.
Nestas quase duas décadas, histórias que podem encher ou livro ou uma série documental. Fã de rock'n’roll, Renato trouxe o espírito beatnik pé na estrada para a torcida que passou a viajar pelo Brasil todo em condições extremas e heroicas.
Neste tempo, A TOF também ocupou a Baixada, abandonada pelo clube, e teve papel fundamental na resistência física às ameaças ao nosso maior patrimônio e foi um braço fundamental do movimento farinhakista que nos devolveu a Baixada. Homenageando o primeiro presidente, brindamos todos os que fizeram parte da TOF em 47 anos de história.
