Para quem já escreveu um livro de 400 páginas contando sua história, só resta parafrasear o poeta Carlos Drummond de Andrade: “O difícil, o extraordinário, não é fazer 158 gols, como Sicupira. Difícil é fazer um gol como Sicupira”.
Barcímio Sicupira Júnior foi único e incomparável, tanto como jogador quanto como personalidade cultural do Paraná. Na trajetória centenária do Athletico, o rei dos golaços nos minutos finais, é o maior goleador da história e, provavelmente, será para sempre.
Maior ídolo do clube mais popular do estado, Sicupira conseguiu ser venerado por diferentes gerações pois dedicou seus melhores anos para manter viva com seu talento, carisma e raça a chama do atleticanismo em alguns dos momentos mais difíceis da vida do clube ao representar o torcedor dentro de campo.
Se na primeira metade do século 20, Caju foi o emblema rubro-negro, na seguinte, a partir de 1968, a cara do Athletico foi Sicupira. O craque bigodudo vestiu o manto por oito anos e neste período foi o artífice da mais dura conquista do clube, o paranaense de 1970, contra todos os prognósticos. Nos anos seguintes e anteriores, sempre foi artilheiro e referência técnica e moral do time e do elenco, mesmo em anos de vacas magras.
Antes do CAP, teve uma carreira extraordinária ao despontar como menino prodígio do Ferroviário e (glória das glórias) ser apresentado ao futebol brasileiro com uma crônica de Nelson Rodrigues. Uma personalidade da cultura paranaense. Depois de jogar com alguns dos maiores gigantes do futebol brasileiro como Garrincha, Gérson, Didi e Nilton Santos, Sicupira fez uma baldeação no Botafogo de Ribeirão Preto.
Numa estranha tradição rubro-negra, voltou sem alarde a Curitiba, com o passe doado para o clube. A partir de então, só saiu para os rápidos e intensos quatro meses em que foi grande parceiro de Rivelino no Corinthians, dentro e fora do campo. Como costuma dizer seu amigo, o desembargador Antonio Loyola, Sicupira foi “jogador de sangue azul, uma categoria acima do craque”.
Sempre amado por colegas e amigos, depois da bola Sicupira ficou outras cinco décadas sob os holofotes no rádio e na televisão e nas redes sociais, nas quais sabia se comunicar como poucos ídolos de sua geração.
Em 2020, tive a honra de pesquisar e escrever ao lado do ídolo e amigo, o livro biografia Sicupira – Vida e Gols de Um Craque Chamado Barcímio (Ed. Banquinho), lançado no auge da pandemia em um evento de muito sucesso na Pedreira Paulo Leminski, o que de certa forma uniu os dois bigodes mais famosos da cidade. Foi só um tijolo a mais na construção da lenda inesquecível e inigualável do craque da camisa 8.