Das grandes duplas da história, nenhuma chegou causando tanto frisson como os poloneses Nowak e Piekarski. No começo de 1996, por ação do lendário empresário Juan Figer, os dois jovens de 21 anos receberam as boas-vindas de muitas centenas de torcedores na Baixada.
Numa cidade com mais de 300 mil descendentes de poloneses, sempre com o intérprete Tyska a tiracolo, a vida deles virou uma grande poprawiny, a famosa festa prolongada de polaco.
Logo no primeiro Atletiba na Baixada, foram expulsos após se “tramarem no pau” com os os jogadores rivais – naquela noite, os encontrei num posto de gasolina e tomei cerveja com Piekarski.
Quando ambos foram convocados para a Polska na véspera de jogo importante, o CAP, para não os perder, fretou um helicóptero para tirá-los do gramado da Baixada numa cena de grande beleza plástica.
O impacto da dupla polonesa extrapolou os campos. Em agosto daquele ano, quando dois machos de girafa vindos da Polônia chegaram ao Zoológico de Curitiba foram batizados de Nowak e Piekarski.
A girafa Piekarski ficou no zoológico por muitos anos e deixou descendentes, enquanto Nowak foi transferido para Minas Gerais, junto com a fêmea nascida em 1994, ainda sem nome.
Em campo, a dupla de temperamentos opostos também deu o que falar. Mariusz Piekarski era mais mundano e uma grande figura. Com cabelo à Jerry Lee Lewis, tornou-se entusiasta das churrascarias de rodízio. Sabia jogar e fez carreira improvável.
Imagino-o hoje contando vantagens nos tradicionais bares de leite poloneses: "Então eu me casei com a Miss Brasil, o Paulo Rink foi meu padrinho, e daí virei o camisa 10 do Flamengo para jogar ao lado do Romário...".
Tudo verdade, como também era o fato dele já ser casado na Polônia e ter precisado pagar fiança para não ser preso por bigamia.
Krzysztof Nowak era sóbrio dentro e fora de campo. Um volante completo, com bola de jogador internacional. Foi titular absoluto com todos os treinadores no CAP.
Fez partidas memoráveis e gols importantes, como na vitória contra o Corinthians na Copa do Brasil em 1997, e o do empate na sobrenatural virada por 5 a 2 2 sobre os coxas, entre outros momentos mágicos. Virou xodó da galera.
No final de 1997, foi negociado com o alemão Wolfsburg e também virou ídolo por lá. Em 2001, no entanto, Nowak descobriu que tinha Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença que o matou aos 29 anos de idade.
Antes disso, criou uma fundação para incentivar pesquisas e cuidar de pessoas que sofrem do mesmo mal. Desde então, o craque polaco foi canonizado pela torcida rubro-negra e lá do céu dos médios-volantes São Nowak intercede a nosso favor nas horas difíceis.