Ironia cruel da história é a que recai sobre personagens que quase se tornaram os mais importantes de seu tempo, mas foram impedidos pelas circunstâncias. O exemplo mais dramático é o do presidente Tancredo Neves (1910-1985), que no dia em que assumiria a Nova República Brasileira que tanto ajudou a costurar, foi para o hospital de onde não saiu vivo.
O “Tancredo” do centenário atleticano é o zagueiro e lateral Marcão. Homem certo para ser o grande capitão do bicampeonato brasileiro e da Copa Libertadores, viu as taças escaparem devido a circunstâncias alheias à sua vontade. Marcão fez a sua parte, ao liderar com raça e versatilidade o grupo fantástico de 2004 e o surpreendente e de 2005. Se tivesse erguido as duas taças qual seria seu lugar nessa história? E como estaria o clube?
Marcão já era bem rodado quando chegou em 2004. Dentro da tradição atleticana, ninguém dava nada por ele. Mas foi só quando ele se firmou como zagueiro pela esquerda que o time engatou uma série invicta de 18 jogos. Com atuações destacadas, ganhou o respeito da torcida. Nascido em Curitiba, autêntico polaco da Barreirinha, Marcão dizia que ficava sem dormir quando perdia.
Mas ele dormiu bem na campanha do Brasileiro, até as últimas rodadas, pelo menos. Se foi grande no Brasileiro, Marcão foi gigante na Libertadores de 2005, esteio de solidez necessária na caótica campanha, marcando gols e dando assistências nos jogos mais importantes até a final.
Antes, ganhou o único título pelo CAP: o paranaense contra o rival local enquanto o Athletico jogava partidas decisivas no torneio continental. Em entrevista ao site oficial do clube em 2016, Marcão revelou ter jogado no sacrifício, mas que erguer o caneco após o gol de Dênis Marques e a decisão por pênaltis valeu a pena.
Marcão trabalhou nas categorias de base do clube entre 2014 e 2019, quando deixou o clube. Como jogador, mais do que honrar a camisa, deu nova dimensão a sua posição no esquema 3-5-2 e foi o melhor ala que marca e o melhor zagueiro que sai para o jogo da história. Força, raça e técnica na medida certa de um grande capitão. Este título ninguém tira dele.