Me contaram que foram os cabelos avermelhados que renderam ao catarinense Walter K. Hoerner o sonoro nome de guerra no futebol. Para quem não sabe, Guará é a belíssima ave pelecaniforme – mesma ordem das garças, curicacas e pelicanos - muito comum no litoral brasileiro, cuja plumagem escarlate era a preferida das tribos da nação Tupinambá nos adornos e cocares.
Uma das primeiras descrições de um guará, aliás, está no livro “Duas Viagens ao Brasil” escrito por Hans Staden, o mercenário alemão que foi prisioneiro dos Tupinambás por volta do ano de 1550 no litoral paulista.
Em campo, Guará tinha a mesma proverbial bravura dos povos autóctones do país e também sabia, à sua maneira, fustigar adversários e alemães. Como fez no dia 15 de julho de 1946, quando colocou quatro cocos no filó alviverde, anotando nosso primeiro poker no Atletiba, feito que só seria igualado quase dez anos depois por Erádio.
Guará foi o mais versátil jogador de sua geração. Chegou à Baixada em 1944 como atacante. Foi campeão no ano seguinte fazendo gol nos jogos finais e, em 1949, fez parte do grupo do Furacão, atuando como coringa em qualquer posição do meio ou ataque.
Em 1952, passou a atuar de zagueiro e encerrou a carreira dois anos depois, após quase uma década em rubro-negro. Sempre um artilheiro nato, fez 76 gols, 13 deles no Atletiba, e está na 8ª posição na lista de maiores goleadores do centenário.
Depois da bola, Guará, que tinha formação em Ciências Contábeis, exerceu essa posição por um tempo, mas entrou na história como professor da rede pública, tanto que hoje dá nome a uma das escolas da rede municipal de Curitiba, no bairro do Mossunguê.
Tinha talento para as artes, era ótimo desenhista numa família que deu ao mundo músicos, pintores, professores e historiadores de primeira linha. Durante os anos 1970 e 1980, era um dos constantes participantes dos encontros na Velha Baixada, no gol do placar, onde se reuniam ex-jogadores como Nillo, Jackson, Caju, Ivan e Alberto para lembrar de seus tempos de Furacão.