Durante duas décadas, me achava um torcedor de sorte por ter visto de perto o primeiro gol de Fernandinho. Ele ainda era um menino valente e esguio de 17 anos, com asas nos pés.
Entrou no fim de um jogo contra o Criciúma, na Baixada, para anotar um gol mágico: driblando zagueiro e goleiro em alta velocidade e finalizando de canhota. No dia seguinte, a pintura foi o gol do internauta com meu voto.
Eu já sabia que Fernando Luiz Roza era a joia da coroa de uma fornada de craques que o Athletico trouxe do Norte. Em menos de três anos, quatro jogadores com potencial de seleção brasileira, mas Fernandinho era o melhor de todos.
E o que teria a carreira mais longa e mais bonita. Pois era um jogador completo para o futebol do século 21. Fisicamente forte e rápido, além de altamente técnico, tem rara inteligência tática que o permite jogar em todas as posições e dominar o campo.
Aos 20 anos, já tinha feito gol de título mundial pela seleção brasileira, decidido Atletibas, levantado taças e sido destaque do Campeonato Brasileiro e da Libertadores. Ídolo instantâneo aqui da casa, sobretudo pelo temperamento que sempre destoou da infantilidade dos seus contemporâneos.
Fernandinho é "cool, calm and collected", como diz a expressão britânica que define um sujeito que nunca perde a compostura mesmo ante a maior adversidade – também é um refrão de canção da fase mod dos Rolling Stones.
Por tudo isso, eu intuía que Fernandinho faria carreira na Inglaterra depois de brilhar no time mais brazuca do leste europeu, o ucraniano Shakhtar Donetsk.
Confesso que não imaginava que seria tanto: lenda do Manchester City, um dos símbolos do renascimento do clube, homem de confiança e capitão de Pep Guardiola, cinco vezes campeão da Premier League na fase dourada do Campeonato Inglês como o grande palco do futebol mundial.
Meu maior orgulho como torcedor foi ver Fernandinho escolher voltar ao Athletico quando poderia ter escolhido a camisa e o salário que quisesse ganhar. Nas quase duas décadas na Europa, nunca deixou de exaltar, reconhecer e torcer para o Furacão.
Foi nosso embaixador na elite do futebol, e fez questão de voltar para casa, ainda jogando o fino da bola, para liderar o grande time do Furacão finalista da Libertadores em 2022. Há toda uma geração de torcedores que vai poder falar para os netos que viu um autêntico gênio do futebol mundial jogando no Athletico por amor à camiseta – e não estamos nos anos 1940.
Fernandinho é o camisa 5 e o capitão da minha seleção de todos os tempos. Tenho certeza de que ele será um das principais cabeças pensantes do futebol mundial nas próximas décadas em alguma função fora do campo. Antes, no dia em que ele levantar um dos troféus que estamos disputando neste ano centenário, dou como cumprida a minha missão de torcedor.