Quando estourava alguma crise no Athletico (o que acontecia bastante), meu pai costumava dizer: "Vamos comprar a Tribuna e ler o Mafuz para saber o que a gente está pensando sobre isso". Era uma daquelas piadas que escondem uma verdade, pois há mais de quatro décadas o jornalista Augusto Mafuz em crônicas diárias interpreta como ninguém a alma deste povo atleticano, movido pela loucura, conflito e emoção.
Mafuz Antonio Abrão nasceu em Guarapuava em 11 de maio de 1949, três dias antes da primeira das 11 vitórias consecutivas do temido Furacão. Amigo de Carneiro Neto desde a infância, chegou a Curitiba aos 17 anos e, como muitos aspirantes a jornalista, foi bater à porta da Rádio Guairacá. Com o primeiro nome de um avô, Augusto, foi rebatizado pelo jornalista Machado Neto.
Em 1968, no ano do “timaço do Joffre”, iniciou como repórter de campo e, dois anos depois, escreveu textos históricos sobre o título do Athletico na Tribuna do Paraná. Em 1972, entrou na faculdade de direito e desde 1977, pela intervenção de outro grande atleticano, Francisco Camargo, escreve na Tribuna do Paraná, quase sempre sobre o CAP.
Dentre os milhares de textos, que um dia hão de ir para um livro, há peças de alto valor literário e histórico, escritas a quente das trincheiras das vitórias e derrotas rubro-negras. Como bom poeta, o cronista Mafuz está sempre em pé de guerra. Não raro é mal compreendido por quem tem dificuldade em ler algo que não confirme suas próprias verdades e desafie o consenso da manada. Pior para eles.
Muito bem-informado dos intestinos do futebol, Mafuz é um polêmico vocacional, com disposição permanente para os bons combates. Às vezes, sua pena perfurocortante pode parecer empunhada por alguém irascível e cheio de inimigos. Quem pensa assim, porém, não conhece o homem doce, emotivo e generoso para quem o mesmo atleticanismo que pulsa nas veias com grande paixão é também o valor mais alto de sua ordem moral.