Um mito que o interesse crescente pela história do centenário rubro-negro precisa derrubar é o de que Amauri e Charrão foram os primeiros negros a jogar no clube. O primeiro jogador negro do CAP foi o atacante Urbino, que fez parte do primeiro elenco atleticano e foi campeão em 1925.
A tese de que isso só aconteceu nos anos 1960 é falsa, espero que motivada pelo fato da dupla ter se destacado em um tempo em que a questão racial se tornou a grande discussão política mundial.
Enquanto o pastor Martin Luther King ganhava seu prêmio Nobel, em 1964, pela luta por igualdade, Charrão e Amauri brilhavam com a linda camisa rubro-negra do período, algo que só reforça o aspecto multicultural da história do Athletico e não o contrário, como há anos se tenta fazer parecer.
Duas lendas rubro-negras de origens diferentes, mas com destinos cruzados pela bola e pelo samba.
O lateral Amauri Fernando dos Santos Ferreira é curitibano, filho de Olga, amada professora da vila operária de Santa Quitéria. Fez parte de uma geração que chegou junto aos infantis do CAP no final dos anos 1950, que também incluía os craques Alfredo Gottardi Jr., Pedrinho, Renatinho e o goleiro Raul Plasmann.
O zagueiro José dos Santos Barbosa, o Charrão, é carioca, foi criado na base do Flamengo e chegou ao CAP em 1963. Ambos jogaram muito com nossa camisa e foram raros sobreviventes da queda de 1967 que ficaram para fazer história em 1968 e no elenco campeão de 1970.
Depois da bola, a paixão pelo carnaval os uniu. A partir de meados dos anos 1970, radicado em Curitiba, Charrão foi diretor de harmonia, compositor, intérprete e até presidente da Escola de Samba Mocidade Azul. Participou de projetos importantes de educação e valorização da cultura negra e do samba no estado.
Mestre Amauri já tinha sido um dos fundadores desta agremiação, a mais tradicional do carnaval curitibano, e já fez de tudo um muito em prol da festa popular de Curitiba a ponto de ser difícil separar uma coisa da outra. Ele é o nosso cidadão Carnaval.
Bons de bola e de samba, Amauri e Charrão são dois orgulhos gigantes da história atleticana.