Quem tenta usar o grau comparativo para achar sentido nos feitos perpetrados por Alexander Pereira Cardoso entre os dias 5 e 23 de dezembro de 2001 confrontando-os com outros possíveis eventos de mesma grandeza precisa olhar os cumes da história.
Coisas como a invenção da escrita ou da internet. Os profetas que originaram as grandes religiões. Winston Churchill e Timoshenko salvando o mundo dos nazistas ou o homem descendo na lua. De qualquer forma, para nós atleticanos, a balança sempre pende ao prato de Alex Mineiro.
Quem tentar o grau superlativo, mesmo o mais absoluto, também nunca terá o bastante. Nenhum exagero, nenhuma espanholada, nenhuma exorbitância dão conta de explicar o que representa Alex Mineiro para o povão rubro-negro.
Ainda que dele se diga o mesmo que um orador inspirado disse do Padre Anchieta, no tempo em que o jesuíta "moveu-se pelo mundo virgem nos pródromos tenebrosos da história do Brasil".
No seu tempo, Alex Mineiro também promoveu “uma série de feitos extraordinários, de esforços sobre-humanos prodigiosos, tanto mais sobre-humanos e prodigiosos quanto realizados com sua evangélica humildade e que impressionaram de tal sorte a imaginação de seus contemporâneos que engendraram amplificações lendárias”.
Muito bem colocado e verdadeiro, mas ainda assim é pouco para fazer justiça ao melhor camisa nove da história. Há ainda quem ainda fale em algum tipo de possessão paranormal ou surto inexplicável naqueles 18 dias que mudaram o rumo da história.
Prefiro acreditar que tudo o que aconteceu nesta bola confusa que chamamos de mundo, antes e depois de Alex Mineiro, foi como foi para que aquelas oito bolas certeiras fossem empurradas pelo “escolhido” até os barbantes pendurados em traves na Baixada e Anacleto Campanella.
Os oito gols nos quatro jogos decisivos de Alex Mineiro deram, definitivamente, a eternidade ao Club Athletico Paranaense.
Sobre Alex Mineiro há, contudo e finalmente, o aspecto cultural de sua personalidade. Ele é o mais brasileiro dos artilheiros, pois é, ao mesmo tempo, o mais cruel e o mais tranquilo dos centroavantes. Assim, resume com seus gols as contradições históricas que formam o Brasil cordial e violento.
Para mim, ele sempre pareceu um personagem que escapou das páginas do Grande Sertão: Veredas. O matador que chega sem fazer barulho, mestre das emboscadas, espreitando zagueiros e goleiros em tocaias mudas.
E sabemos, pois nos disse Otto Lara Resende, que "a grande contribuição de Minas Gerais para a cultura universal é a tocaia”. A tocaia é uma homenagem à vítima.
Cada um dos gols de Alex Mineiro é portanto uma homenagem atleticana aos adversários caídos que a partir de então podem se orgulhar da honra de terem sido vazados pelo único e verdadeiro G.O.A.T. do futebol mundial.