Técnico de um Nikão “rebelde” no Atlético-MG, Micale sentencia: “Hoje ele é um milagre”
A decisão do título da Copa do Brasil entre Atlético-MG e Athletico vai marcar o reencontro de Nikão com o clube onde se profissionalizou. Foi no Galo, em 2010, que o jogador estreou como jogador profissional, depois de passar pelas bases do Mirassol, Palmeiras e Santos.
Nikão tinha 18 anos quando foi contratado pelo clube mineiro, indicado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo. Até chegar ao time principal, ele integrou o time de aspirantes e o sub-23 sob o comando de Rogério Micale durante um ano, justamente em um período turbulento na vida de Nikão.
Naquela época, a rotina de excessos, com noitadas constantes e problemas com bebida alcoólica, resumiam a vida desregrada do meia-atacante, que dois anos antes tinha perdido a avó, dona Rita, que o criou.
“Todos esses problemas aconteceram na época que o Nikão estava comigo. Isso tudo o abalou muito. A gente tinha muita preocupação com o que ele poderia se tornar, por essa rebeldia e extra-campo. Nikão me deu trabalho demais”, relembra Micale, em entrevista ao UmDois Esportes.
O técnico lembra que Nikão não costumava cumprir regras e tinha dificuldade para obedecer aos horários. Micale tentava ser um “pai” para o jogador, mas disse que, por vezes, chegou a puni-lo.
“Eu tirava ele dos jogos, ou, às vezes, não relacionava, não colocava pra jogar. Era esse tipo de punição para ver se ele melhorava, para ver se entendia que era preciso mudar a conduta. Ele até ouvia, mas o agravante era a questão familiar, que ele não tinha. A gente tentava colocá-lo no caminho”, conta o técnico, hoje atualmente no Al-Dhafra, dos Emirados Árabes.
Micale: “Sempre que o Nikão era desafiado, dava resposta”
Micale ficou na base do Atlético-MG de 2009 a 2010, e depois entre 2011 a 2015. Em especial, lembra de um jogo pela Copa Sub-23, em 2010, entre Atlético-MG e Palmeiras, quando Nikão foi o destaque, marcando na vitória do Galo por 4 a 1.
"Sempre que o Nikão era desafiado, ele sempre dava resposta. Ele acabou com o jogo, foi espetacular. Ali vimos que tínhamos um jogador importante nas mãos. O que poderia afetar todo o processo era fora de campo. Eu briguei muitas vezes com ele por causa disso”.
Nikão não se firmou no Galo e foi emprestado – rodou por seis times, Vitória, Bahia, Ponte Preta, América-MG, Linense-SP e Ceará, antes de chegar ao Athletico, em janeiro de 2015.
Anos depois, Micale reencontrou Nikão, durante uma partida no Mineirão, momento considerado como muito especial pelo técnico que comandou o Brasil no ouro olímpico nas Olimpíadas do Rio-2016.
“O Nikão tinha se transformado, até na forma de falar, de se expressar. Era uma outra pessoa. Naqueles poucos minutos, lembramos de algumas coisas, foi rápido. Fiquei muito feliz, não pelo jogador que ele se tornou, mas como um homem, um pai de família. E, consequentemente, também pelo grande jogador que vem construindo, com uma carreira sólida”.
Ele continua.
“Nikão era um jovem que tinha tudo pra se perder, mas se encontrou. É um processo difícil, são muitos os caminhos para fora de uma vida correta. Foi um ano de muita turbulência, mas que no futuro a gente vê que tudo valeu a pena, que tudo era questão de tempo, de experiência, ainda mais alguém sem uma estrutura familiar. Tenho muito carinho pelo Nikão, por ele ter vencido, ainda mais de onde ele veio”, diz Micale.
Mesmo com tantas dificuldades pelo caminho, o técnico ressalta que todo o esforço valeu a pena.
“Nikão era um jovem que tinha tudo pra se perder, mas se achou. É um processo difícil, são muitos os caminhos para fora de uma vida correta. Foi um ano de muita turbulência, mas que no futuro a gente vê que tudo valeu a pena, que tudo era questão de tempo, de experiência, ainda mais alguém sem uma estrutura familiar. Tenho muito carinho pelo Nikão, por ele ter vencido, ainda mais de onde ele veio”, diz Micale.
Micale reforça a dedicação de Nikão para dar a volta por cima, na vida e na carreira, e diz que sua história daria um filme.
“A história de vida do Nikão também é a de vários brasileiros que a gente encontra, que vem de uma família devastada. E, mesmo com todo esse histórico difícil, ele venceu. Estamos falando de um cara hoje bem sucedido, que tem muitas conquistas pelo clube, que é considerado, por muitos, o maior da história do Athletico. A história do Nikão dá um filme. Trabalhei com muitos jovens promissores, e quando você vê uma história como essa, que deu certo, isso não tem preço. O Nikão hoje é um milagre, ele trabalhou muito, alcançou coisas inimagináveis. Quantos garotos podem se inspirar na vida do Nikão? Ele é um cara que hoje serve de inspiração para muitas pessoas, ele saiu do fundo do poço e hoje se tornou um ídolo de um grande clube na sua profissão”, finalizou.
No comando do Athletico, Nikão estará em campo neste domingo (12), quando o Furacão faz o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, contra o Atlético-MG. O jogo está marcado para as 17h30, no Mineirão. A volta será no dia 15, uma quarta-feira, na Arena da Baixada.