SAF bilionária? Especialista avalia valor do Athletico e possível modelo
As Sociedades Anônima do Futebol (SAF's) têm conquistado espaço no futebol brasileiro e mundial. E o torcedor do Athletico vive a expectativa para a venda de uma porcentagem do clube.
A ida de Alexandre Mattos e Márcio Lara aos Estados Unidos para uma reunião com o Bank of America, divulgada pelo colunista Augusto Mafuz, do UmDois Esportes, na semana passada, colocou o assunto ainda mais em xeque no âmbito local.
O presidente do Furacão, Mario Celso Petraglia, revelou em entrevistas recentes que o valor da SAF do Furacão é maior que a do Vasco, Botafogo e Cruzeiro somadas. Ou seja, ultrapassaria a casa de R$ 1,5 bilhão.
No entanto, o modelo inicial aprovado em 2021 prevê a venda de, no máximo, 50% das ações para os investidores, mantendo os outros 50% sob controle do clube - tendo a FunCap (Fundação Clube Athletico Paranaense) como órgão regulador, com poder de veto de projetos e acordos. Diferentemente do que temos visto no país.
Mas, afinal, o Rubro-Negro pode chegar ao valor projetado por Petraglia e com percentual de até 50%? O especialista em gestão e marketing do esporte e fundador da Pluri Consultoria, Fernando Ferreira, acredita que sim, mas faz ressalvas quanto à questão do controle do clube.
"É possível. Se o Athletico vender o controle, certamente conseguirá chegar neste valor. Porque o Athletico é um dos clubes mais valiosos do Brasil, que é referência em diversas áreas e creio que, com em um trabalho de prospecção, muito bem estruturado, que bata os mercados lá fora e aqui, que possa pensar em situações de consórcios, combinações ou investidores mesmo. Mas, de qualquer maneira, é um clube que tem um valor altíssimo. Acho R$ 1,5 bilhão um número factível para o Athletico, mas vendendo o controle", acredita.
Especialista destaca crescimento e gestão do Athletico como diferenciais para negociações
Todo contexto recente do Athletico, com finanças em ordem, tendo dívidas controladas e dinheiro em caixa, sendo referência em vendas de jogadores, receita com estádio - inclusive, o recente naming rights -, além, é claro, do crescimento esportivo, com títulos e boas posições em campeonatos, são diferenciais na negociação.
O checklist de um clube bem visto no mercado está completo. Até por isso, o Athletico não tem pressa para "se vender". O próprio presidente Petraglia disse que recusou uma investida do Grupo City, porque não tinha intenção de participar de um grupo com vários clubes.
"O Athletico é um modelo há muitos anos, é um exemplo de gestão em diversas áreas. E o Athletico foi o único clube que conseguiu quebrar uma hierarquia do futebol brasileiro. O Brasil tem aquela história dos 12 grandes, mas eu chamo hoje dos 12 famosos, porque o Athletico hoje furou isso aí, ele está no meio. Sob qualquer aspecto, o Athletico é um dos principais clubes do Brasil. E que continua em crescimento, mas que é uma realidade, é um clube consolidadíssimo", explica Fernando Ferreira.
"Hoje, o clube está em uma situação muito confortável, porque tem tudo o que é necessário para ter um clube forte, o Athletico atende aos requisitos. É um clube muito bem visto no mercado. É um processo de quase 30 anos de crescimento e de consolidação, que fez com que ele entrasse nesse grupo desses 12 que sempre foram os preferidos e se estabeleceu. Se você colocar todos os critérios que definem um grande clube, o Athletico vai estar sempre bem posicionado", acrescenta.
Modelo de participação minoritária pode complicar pensando a longo prazo
O modelo citado por Petraglia era um projeto inicial lá de 2021. No entanto, não é oficialmente o único formato escolhido, vai depender das negociações. Por isso, é preciso cautela e análise de todos os interessados.
O presidente rubro-negro chegou a dizer que o clube já teria 12 cartas de intenção com possíveis investidores. Petraglia está afastado oficialmente do Furacão desde junho por problemas de saúde.
Fernando Ferreira explica que a participação minoritária é problemática nas SAF's, principalmente a longo prazo. Isso porque os clubes possuem muitos envolvidos nos bastidores, em se tratando de questões políticas, com eleições, conselhos e etc. Mas o especialista, mais uma vez, acredita que o Athletico possa ser um pioneiro.
"A venda de participação minoritária é um problema se tratando de clubes de futebol, porque existem as questões da governança, as questões de eleições, é muito difícil você blindar politicamente um clube no longo prazo. Você pode blindar até o horizonte que você enxerga, mas a longo prazo há muita incerteza. O pessoal está usando muito o modelo do Bayern [de Munique], mas é a Alemanha, né? É a governança, cumprimento de contratos e estabilidade são marcas dos caras, não dá para comparar. Isso pode ser um desejo, mas na prática é difícil", exemplifica.
"Mas dito isso, o Athletico é um dos pouco clubes que podem se aventurar a desejar isso, a vender uma participação minoritária. Acho até que ele pode ter sucesso. Você pode blindar o estatuto, pode se criar salvaguardas importantes com investidores, mas sempre a longo prazo. A curto prazo, o Athletico está com tudo equacionado, tem credibilidade, tem confiança, mas a questão é o longo prazo, que é sempre uma incerteza", projeta.
Ferreira finaliza citando que a venda de uma SAF sem o controle total de um clube tende a ser por valores bem mais baixos.
"Nós fazemos valuation, fizemos até para um clube importante recentemente e ele queria analisar quanto ele valia com a venda do controle e sem a venda do controle. E a diferença é substancial. Existe um desconto que você tem que dar para o investidor por ele não ter direito a controle do clube, porque esse prêmio de controle do clube, ele vale bastante. O Athletico conseguindo vender apenas a participação, isso certamente terá um desconto substancial e aí é o clube que vai avaliar se isso vale a pena ou não", encerra.