Entenda as diferenças dos gramados sintéticos de Athletico, Palmeiras e Botafogo
A polêmica do gramado do Allianz Parque colocou em evidência novamente o tema da grama sintética no futebol brasileiro. Além do estádio do Palmeiras, a Ligga Arena, casa do Athletico, e o Nilton Santos, do Botafogo, possuem gramados não naturais.
Mas o grande problema não está na grama em si, que tem durabilidade maior, mas sim nos preenchimentos que buscam deixar o gramado mais natural. Diferentemente das borrachinhas que vemos nos campos de society, nos campos de futebol profissional os materiais são de origens orgânicas e sintéticas e cada um funciona de uma forma.
"O que temos no Allianz Parque é o TPE, um preenchimento misto de plástico, que se deforma e não volta à condição original, como borracha, que se deforma e volta. Os estádios do Athletico e do Botafogo têm preenchimentos orgânicos", detalhou Rogério Garcia, 60 anos, especialista em gramados sintéticos.
"A base no material da Ligga Arena é a fibra de coco, que, quando absorve água, incha e adquire esse papel de amortecimento. No Nilton Santos, é uma cortiça, que vem da natureza. É um grão de cortiça semelhante à borracha. Esses materiais orgânicos retêm menos o calor, não aquecem tanto como os artificiais, como o termoplástico", acrescentou.
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No fato do Allianz Parque, o tempo, a poluição de São Paulo, o acúmulo de calor, aliados ao alto número de shows, fizeram com que o TPE se deformasse e virasse uma espécie de pasta, que acabou grudando nas chuteiras dos jogadores e teve ampla repercussão nacional.
"O material chegou no ponto antes de derreter e grudou um ao outro. Os eventos, as miçangas que caíram nos shows da Taylor Swift, tudo isso se misturou e amassou o TPE. E como é um material plástico é muito difícil de tirar. Quando o material é metálico se tira com imã, mas assim com o plástico, ficou difícil. Será necessária a troca do composto", acrescentou Garcia.
Nesta quinta-feira (1º), a WTorre, empresa responsável pela administração do estádio palmeirense, informou que vai mudar esse "recheio" do campo do composto termoplástico para a cortiça - similar ao do Botafogo. O estádio deverá ficar 20 dias fechado, e o Palmeiras deve perder dois como mandante no local, contra Ituano e Corinthians.
O UmDois Esportes traz detalhes de cada gramado e explica as diferenças das tecnologias de cada um dos três estádios da Série A:
Ligga Arena: fibra de coco
A Ligga Arena, casa do Athletico, tem material italiano, da fabricante Italgreen, e possui em seu gramado o chamado geofill, composto feito de fibra de coco. Desde que foi inaugurado, em 2016, o gramado nunca precisou ser trocado e tem vida útil longa, segundo Rogério Garcia, que, inclusive, participou da instalação do campo quando era CEO da empresa GV Group.
O que acontece são que todos os anos o Furacão acrescenta um pouco da fibra para manter o campo em bom estado - no jogo contra o Galo Maringá, inclusive, alguns funcionários estavam varrendo o campo para uniformizar a quantidade em todos os setores do gramado. A fibra de coco é um composto que se adapta melhor ao solo úmido.
"Todos os sistemas duram muito tempo. A fibra de coco, com o tempo, vai se decompondo. O Athletico faz uma reposição anual, com quantidade não muito grande, mas para que o sistema se mantinha vivo, em conformidade. Mas, todo ano, a Fifa analisa e faz a certificação. Todos esses campos são testados. No do Athletico foi feito recentemente e já está apto para 2024. E o gramado em si está em estado de novo", garantiu Garcia.
O próprio CEO do Athletico, Alexandre Leitão, comentou em entrevista recente sobre a polêmica nacional da grama sintética e defendeu que o gramado rubro-negro está em boas condições e com a manutenção em dia.
"No meu entendimento existem dois tipos de gramado [sintético]: o bom e o ruim. O de boa manutenção e o de má manutenção. O nosso está na categoria bom e de boa manutenção", afirmou Leitão.
Allianz Parque: termoplástico (TPE)
O gramado do Allianz Parque, inaugurado em 2020, é semelhante ao da Ligga Arena, mas o que muda bastante é este composto do preenchimento. As gramas em si têm fios parecidos, os da Arena são mais altos (60 mm) do que os do Allianz (50 mm).
Além disso, no de Curitiba, as emendas dos rolos são costuradas e colocadas horizontalmente, enquanto que em São Paulo o piso é colado e instalado verticalmente no campo. No alviverde, há ainda uma manta de amortecimento por baixo do gramado, ao contrário no do rubro-negro. O nome do gramado do estádio do Palmeiras é Soccer Grass MX Elite 50 e veio da Holanda.
Já o "recheio" para dar sensação de naturalidade é que difere bastante. Se na Ligga Arena o produto é orgânico, no Allianz Parque, o composto, como dito, é sintético, feito de partículas cilíndrica de até 5 milímetros, furadas, e com o valor mais caro do mercado.
No estádio do Athletico, pela fibra de coco absorver umidade, a demanda de irrigação é menor, mesmo necessária. No campo palmeirense, o maior volume de água no TPE ajudava a bola a rolar mais naturalmente. Agora, o composto será trocado também por natural e deve ser similar ao do Nilton Santos.
Nilton Santos: Cool Play - cortiça
Inaugurado no começo de 2023, o gramado do Engenhão, assim como os outros dois, também tem o certificado internacional de Fifa Quality Pro, mas utiliza uma tecnologia diferente tanto do estádio atleticano, como do Allianz Parque. E cada gramado tem camadas diferentes até que se chegue na grama em si.
No caso do Nilton Santos, o complexo orgânico que vem logo abaixo da grama é chamado de Cool Play e é composto por cortiça, que tem atuação isolante e de maciez.
Depois, vêm areia sílica e o Shockpad, uma camada laminada que ajuda na fixação da grama e tem função anti-impacto. A tecnologia é a mais atual do mercado e foi inspirada em campos dos Estados Unidos e da Europa - o material é da empresa FieldTurf e foi implementado pela Total Grass.