Primeiro brasileiro a jogar pelo Estudiantes destaca “escola argentina”
Poucos jogadores brasileiros têm a chance de atuar no futebol argentino. O meia Jean Irmer, 27 anos, foi o primeiro a atuar pelo Estudiantes, rival do Athletico nestas quartas de final da Libertadores.
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Irmer chegou aos pinchas ainda para as categorias de base, lá em 2013, indicado por Alemão, que era seu treinador no Central de Caruaru. O jogador acabou não atuando pela equipe principal alvirrubra, mas diz que a experiência e escola argentina o ajudaram muito na carreira. Estar com La Bruja Verón também foi importante para o seu desenvolvimento.
Depois de passar pela base do Estudiantes, se transferiu ao Paraná Clube, onde passou a maior parte da sua carreira, entre 2013 e 2016. Foi vendido ao Corinthians, atuou também por Vasco, Botafogo, Vitória, Marítimo-POR, Gil Vicente-POR e agora está no Juventude.
Confira a entrevista com Jean Irmer:
1) Como foi sua passagem pelo Estudiantes? Você começou nas categorias de base? Como foi período no clube?
Eu fui para o Estudiantes em 2012 através do Alemão, que era meu treinador na época no Central de Caruaru. O Alemão que jogou no Napoli com o Maradona e jogou na Seleção brasileira em 86 e 90. Era um belíssimo jogador. Ele viu meu perfil e meu estilo de jogo e falou que se encaixava muito no perfil que um amigo dele estava pedindo para o Estudiantes. Ele encaminhou meus vídeos, os caras se interessaram e me levaram para lá em abril de 2012, com 17 anos.
Fiquei dois anos no Estudiantes e foi um período maravilhoso, foi um pilar na minha carreira. Tudo o que aprendi profissionalmente, não só como pessoa, mas como atleta, convivendo com astros do futebol, como o Verón, pude aprender muito. Foi muito proveitoso. Infelizmente, não joguei pelo profissional, mas joguei pela equipe B e pela base. Aprendi e amadureci muito como atleta ali.
2) Poucos brasileiros atuam ou atuaram no futebol argentino. Você foi o primeiro a jogar pelo Estudiantes. Por que acredita que é um espaço tão difícil para os brasileiros?
O futebol argentino tem um espaço reduzido para brasileiros não só pelo preconceito. Eu nunca sofri isso, não tenho nada para reclamar. Mas os jogadores brasileiros podem ter um pouco de dificuldade porque o futebol argentino é muito próximo do que o futebol europeu pede. É um futebol extremamente agressivo, de intensidade, de estar sempre buscando o espaço. O futebol brasileiro, antes, era mais cadenciado. Então, é um perfil de responsabilidade, de bastante profissionalismo, e o argentino acaba fechando o mercado para os brasileiros.
Eles vão atrás mais dos colombianos e dos uruguaios, que é mais o perfil deles. O futebol europeu tem buscado muito jogador argentino pelo perfil de ser um jogador pronto. Taticamente, é um jogador muito mais pronto do que o brasileiro. O jogador argentino chega mais preparado, pronto, porque eles já vêm desde a base com ensinamentos, teoria e prática bem mais desenvolta. Isso é indiscutível.
3) O que você pode falar sobre a cidade de La Plata, da torcida, do estádio e do clube para os torcedores do Athletico?
A cidade, o clube, a torcida… Eu tenho ótimas recordações. O Estudiantes me cativou por ser um clube família. É literalmente um clube para o sócio. Lá, seus filhos estudam, muitas meninas vão jogar o hockey de grama, muitos meninos vão jogar o basquete. Então, os sócios estão sempre lá. O Estudiantes é um clube família, tanto que o estádio foi construído com a ajuda dos sócios. No início da construção, eles estavam fazendo campanhas entre os sócios e vendendo tijolos. Eles respiram realmente o Estudiantes.
4) Qual será o clima (em campo) que os torcedores e jogadores do Athletico irão encontrar?
Pelo que eu conheço de antigamente e vendo o Estudiantes de hoje, eles podem esperar um time muito agressivo na marcação, um time que vai jogar junto com a torcida. Então, eles tentam impor o ritmo, impor a agressividade e intimidar o adversário. Geralmente este é o Estudiantes. Eles tentam fazer um clima hostil dentro da própria casa, mas o Athletico tem tudo para conseguir dar a volta nisso aí porque é um time muito maduro, um time pronto para decisões assim.
5) Você saiu do Estudiantes para ir ao Paraná Clube. O que mudou, como foi essa negociação?
Foi uma das decisões mais difíceis que eu tomei, porque eu estava muito feliz, confortável no Estudiantes. Mas eu entendi que eu precisava sair para poder jogar. Eu ainda tinha um ano de contrato e tive que convencer eles para rescindir meu contrato. O Paraná vivia um momento muito bom naquele tempo, em 2013. Eu queria me projetar no futebol brasileiro. Fui contra o que o meu empresário e o Alemão queriam. Mas que bom que eu apostei no Paraná e deu certo.
É uma história muito longa que eu tenho com o Paraná. Quando cheguei, acabei me lesionando, no tornozelo e desci para a Taça São Paulo. Fizemos uma das melhores campanhas da competição na história. Logo em seguida subi ao profissional, deslanchei e fiz mais de 75 jogos. Ganhei troféu revelação do Paranaense, estive na seleção do campeonato e, depois, fui vendido ao Corinthians, que também trouxe um retorno financeiro ao clube. Fico feliz de ter tomado aquela decisão. Tenho muita gratidão ao Paraná. Fui muito feliz em Curitiba.
6) Athletico e Estudiantes ficaram no empate no primeiro jogo. Qual dica você daria para o Furacão avançar lá na Argentina?
O Athletico precisa fazer o que sempre fez. O Athletico é um time copeiro. Quem joga contra o Athletico, este ano tive oportunidade de jogar contra eles, a gente vê que é um time muito maduro psicologicamente. Quando tem uma adversidade, eles conseguem dar a volta por cima. É um time que o Felipão tem montado muito bem, com alguns jogadores que eu, desde a época do Paraná, já jogava contra, como o Thiago Heleno. São jogadores que o jogo vai pedir, com espírito de vibração. O Estudiantes tem uma boa equipe, mas a gente tem o Athletico muito bem postado, com um técnico vencedor.