Nas semifinais, Weverton, Santos e Bento consolidam “fábrica de goleiros” do Athletico
O uruguaio Leonardo Burián, do Vélez Sarsfield, é exceção nas semifinais da Libertadores. O veterano de 38 anos, além de ser o mais velho entre os arqueiros titulares dos quatro melhores times do continente, também é o único que não foi formado ou lapidado na ‘fábrica de goleiros' do CT do Caju.
O centro de treinamentos do Athletico – cujo nome é uma homenagem ao goleiro Alfredo Gottardi, primeiro paranaense a defender a seleção – é onde os três outros goleiros das semifinais, Weverton (Palmeiras), Santos (Flamengo) e Bento (Athletico) têm suas raízes mais fortes. No caso do camisa 21 palmeirense, é o local onde consolidou sua carreira. Já para Santos e Bento, é a casa que realmente os formou para o futebol.
Um processo construído ao longos dos anos e que colhe sucesso sem nenhuma dose de acaso. “Foi um trabalho planejado, que não visava só quem jogava, mas todos os goleiros. Desenvolver as habilidades de cada um dentro das necessidades deles”, atesta Luciano Júnior, treinador de goleiros rubro-negro entre 2013 e 2019, e atualmente coordenador de preparação da área no Palmeiras.
+ Veja a tabela completa da Libertadores
“Vejo que desde cedo o Athletico tem muito certo o perfil do goleiro que quer captar. Vai desde o biotipo, questão física. Não só de ser alto e forte, mas também de ser ágil e rápido. Tem muita assertividade nisso”, destaca o curitibano Thiago Mehl, treinador de goleiras da seleção brasileira feminina, com passagem em diversas categorias do Furacão entre 2004 e 2015.
Weverton, de 34 anos, é o mais experiente dos três – e o único que não é cria do Furacão. Desembarcou no CT do Caju em 2012, após ser titular da Portuguesa no título da Série B.
Então com 24 anos de idade, ele não tinha experiência na elite e veio para disputar a Segunda Divisão, como mais uma peça em um processo de remontagem do elenco. Não demorou a se consolidar, no entanto.
Fez 33 jogos na campanha do acesso e só deixou o time em 2017, com a moral de capitão e 318 partidas no currículo. Além da medalha de ouro com a seleção olímpica na Rio-2016, com direito a pênalti defendido na final contra a Alemanha.
Em praticamente todo o período em que Weverton foi incontestável na meta atleticana, Santos aguardou sua chance no banco de reservas enquanto seguia evoluindo nos treinamentos. Dois anos mais novo, ele acabou sendo o protagonista das conquistas que viriam a partir de 2018, com a Sul-Americana, justamente na temporada em que assumiu a vaga do colega que se transferiu de graça ao Palmeiras.
Aderbar Melo dos Santos Neto conheceu o Athletico dez anos antes, em abril de 2008, aos 18 anos de idade. Mas já era conhecido dos olheiros atleticanos há um tempo, antes mesmo de o clube formalizar parceria com o Porto-PE, em dezembro do ano anterior. Foi encontrado pelo observador Flávio Mendes, que buscava goleiros rápidos e leves a pedido do então preparador de goleiros atleticano Almir Domingues.
Deu tão certo que Santos se tornou o goleiro mais vitorioso da história do clube, com sete títulos em 268 jogos, e repetiu a façanha de vencer o ouro olímpico, em Tóquio-2021. Em abril de 2022, aos 32 anos, ainda deu retorno financeiro ao ser negociado por R$ 15,5 milhões ao Flamengo.
Agora é a vez de Bento, de 23 anos, cuja formação completa é dentro do Athletico. Ele estreou de supetão em novembro de 2020, contra o River Plate, nas oitavas de final da Libertadores – o titular Santos estava com Covid-19.
Respondeu com grandes atuações e muito potencial de crescimento. Tanto que o clube não contratou ninguém para disputar a posição, acreditando mais uma vez no trabalho da fábrica de goleiros do Caju. Já são 68 jogos com a camisa do time do coração.
“Se hoje tem o Bento, é por que teve o Santos. E por que o Santos teve o Weverton. A palavra é referência. Vão vir outros goleiros para frente e o Bento vai se tornar referência. É algo muito importante no processo de formação”, opina Mehl.
Qualidades parecidas
Weverton, Santos e Bento carregam algumas características similares na posição mais complexa do jogo. Para Luciano Junior, eles têm o mais importante: sabem defender como poucos.
“Hoje em dia se fala e se cobra um goleiro inserido no modelo de jogo da equipe. Só que eu gosto muito de falar de defesa de meta e o que vejo de ótima similaridade nos três é isso. Eles ajudam muito suas equipes defendendo o gol”, resume o treinador, que por várias vezes incluiu Bento, mesmo ainda na base, de treinos com os goleiros profissionais.
“Fiquei lá por seis anos de muito trabalho e dedicação. Um trabalho de construir, de desafiá-los, motivá-los. Lançar novos desafios e fazer com que eles queriam descobrir seus novos limites”, completa.
Outro ponto parecido entre eles é a simplicidade na maneiras de fazer as defesas, o que faz parte da parte mental do esporte.
“Eles passam muita segurança para o time e para a torcida. Imagina você jogando em uma arena lotada e o goleiro faz uma determinada defesa com uma ponte. O estádio vai abaixo, isso causa um momento de pressão. Mas eles fazem defesas que nem precisam cair, de forma simples, sempre facilitando. É um baita diferencial”, acredita Mehl, que elogia o trabalho do atual treinador de goleiros, Felipe Faria, e a aposta no trabalho de longo prazo.
"O Athletico, há algum tempo, tem uma escola que atrai os goleiros mais jovens. Se uma promessa estiver entre o Athletico e outro time, tem uma grande chance de escolher o clube porque sabe do histórico de colocar o pessoal da base para jogar", aponta.