Lenda viva, supercraque Jackson Nascimento é o presente do centenário do Athletico
O maior presente que o Athletico terá no ano de seu centenário é poder comemorar outro: supercraque do clube nas décadas de 1940 e 1950 e lenda viva do Rubro-Negro, Jackson Nascimento completa 100 anos de idade em 24 de agosto.
"Eu me considero um filho do Athletico, me criei dentro do clube", conta o segundo maior artilheiro da história do Furacão, com 143 gols, tranquilamente acomodado em sua poltrona, rodeado pelas bisnetas, no apartamento em que vive há três anos em Balneário Camboriú (SC).
Lúcido e sem nunca deixar de acompanhar seu Furacão, Jackson recebeu a reportagem do UmDois Esportes no fim de janeiro. Ele se mudou para o Litoral catarinense após o falecimento da esposa, em 2021, para morar com a filha Vera Helena – também é pai de Vera Lia e Frederico (já falecido).
Em quase uma hora de conversa, o primeiro camisa 10 atleticano esbanjou felicidade. Estar perto da família, segundo ele, é o segredo para tamanha longevidade. Depois, vem o orgulho pelo Athletico, sua segunda família.
"Todas as vezes que aconteceram mudanças no espírito do clube eu estava junto, apreciando tudo aquilo como se fosse minha família. Meu pai era atleticano, minha mãe era atleticana, meus irmãos todos eram atleticanos. Até os cachorros eram atleticanos. Eu pintava os cachorros quando queria passear no cais. Me perguntavam por que eu fazia isso. Porque o cachorro é atleticano, eu respondia, com maior amor e carinho. Era uma coisa fantástica. As cores vermelho e preta estavam em todas minhas roupas, espingarda, vara de pescar, tudo rubro-negro", recorda Jackson, sorrindo de orelha a orelha.
Natural de Paranaguá, mas criado em Antonina, o meia-esquerda veio estudar em Curitiba no Internato Liceu Rio-Branco. Começou a jogar no juvenil do clube em 1942. Foi campeão paranaense em 1945 e também no lendário Furacão de 1949. Foi negociado com o Corinthians em 1950 e retornou, literalmente para jogar de graça, três anos depois.
Aposentou-se em 1957 e depois chegou a trabalhar como dirigente em diversos momentos, incluindo na comissão técnica do título estadual de 1958.
Época em que o futebol era diferente. Apesar de já profissional, o sentimento era de amadorismo, no melhor sentido da palavra. "Eu tinha vergonha de perder. Quando perdia, não saia na rua no dia seguinte, não ia trabalhar (era advogado) e não queria conversar com ninguém. Eu não queria perder a vontade de ganhar, transferia para meus companheiros", diz Nascimento, que não tem dúvidas quando perguntado sobre qual era seu maior estímulo como jogador.
"Ganhar do Coritiba. Não era porque queria que o Coritiba ficasse pequeno, mas porque queria que o Athletico grande. E vencer o Coritiba valia tudo... A gente queria ganhar para dar risada, mas tinha amigos lá também, o Aroldo Fedatto era um deles, grande figura humana".
Sem lembrar de detalhes, afinal já faz mais de 70 anos, Jackson garante que o gol mais bonito foi marcado contra o rival, de cabeça, no gol de entrada do Alto da Glória. "Desse não me esqueci nunca", fala o ídolo, que comemorava sempre correndo sem direção e vibrando com a torcida.
Quem herdou o dom futebolístico do craque é a bisneta Gabriela, 11 anos, filha da neta Letícia Klein. A menina de sorriso cativante como o do bisavô treina na escolinha do PSG em Balneário Camboriú e é fanática torcedora do Athletico. Uma paixão que veio naturalmente. "Escuto pelo rádio quando não consigo ver na televisão", fala Gabi.
Ela sonha em ser jogadora profissional e vestir a camisa do Furacão, para deleite de Jackson. "Vou viver ainda pra vê-la no campo fazendo gol. E me emocionar muito... Me sinto bem, não penso em morrer doente, não. Tenho uma família fantástica que estimula todo tipo de pensamento, tenho meus netos, bisneto, filhas", afirma o ex-jogador mais velho de Athletico e Corinthians ainda vivo.
Um verdadeiro presente no centenário do seu amado Furacão.