Estratégias opostas conduziram Athletico e Galo à final: compare as finanças
Athletico e Atlético-MG colocam à prova modelos financeiros opostos na decisão da Copa do Brasil, que começou com massacre mineiro dentro de campo na partida de ida, no último domingo (12), no Mineirão.
Após o 4 a 0 imposto pelo time de Cuca dentro de casa, a finalíssima será nesta quarta-feira (15), às 21h30, na Arena da Baixada.
Com time caro e estrelado, o Galo tem uma das maiores dívidas do futebol nacional e dispõe de uma relação de mecenato com empresários bilionários e torcedores do clube, turbinando as finanças com uma espécie de anabolizante econômico.
De outro lado, o Furacão tem elenco mais econômico e é citado como exemplo de gestão sóbria e empresarial, capaz de ser autossustentável financeiramente e fazer frente a rivais mais endinheirados do futebol nacional. Os números atestam as disparidades financeiras entre os xarás brasileiros.
Elencos
Com nomes como Hulk, Diego Costa e Nacho Fernández, o elenco do Atlético-MG vale mais que o dobro do Furacão. Segundo estimativa do próprio Galo, publicada em balanço financeiro, o atual grupo de jogadores do clube mineiro está avaliado em R$ 930 milhões. Apenas o argentino Nacho Fernández custou R$ 58 milhões junto ao River Plate-ARG.
Já o Furacão, mesclando jovens promessas como Abner, Christian e Khellven, com ídolos como Santos, Thiago Heleno e Nikão, tem o elenco avaliado em R$ 368,5 milhões, de acordo com portal alemão especializado, Transfermarkt.
Mecenato no Galo...
O grupo de mecenas do Atlético-MG é formado por Rubens e Rafael Menin, donos do conglomerado que conta com MRV, CNN Brasil e Banco Inter; Ricardo Guimarães, proprietário do BMG; e Renato Salvador, cuja família é dona do hospital Matter Dei.
O grupo iniciou a relação com o Galo em 2020. Desde então, já fez empréstimos que superam os R$ 400 milhões. “Queremos receber quando for possível. Está no planejamento. Isso é sem juros”, disse Menin em abril deste ano, em entrevista ao ge.com.
“Uma dívida sem
juros, para comprar jogador, e pagar quando quiser, o Barcelona quer, o Real
Madrid quer. Deve R$ 1 bilhão? Mas 40% aproximadamente disso são sem juros”,
reforçou.
...autossuficiência no Athletico
Já o Athletico, liderado por Mario Celso Petraglia, vem de sete anos consecutivos de superávit em seus exercícios financeiros. Em 2020, o Furacão bateu recorde ao registrar R$ 134,4 milhões positivos. Somados estes últimos sete anos, o superávit chega a R$ 370 milhões.
Estratégia que tem como cerne a aposta nas categorias de base e uma ação clínica nos mercados de transferência. Em 2020, apenas com vendas de jogadores, descontadas participações de terceiros e intermediações, foram R$ 152 milhões recebidos.
Demais receitas
De acordo com
balanços financeiros de 2020, o Atlético-MG recebeu R$ 64 milhões em direitos
de TV — o clube já havia antecipado parte do valor total em anos anteriores; R$
21 milhões com marketing; R$ 18 milhões com torcida e estádio; e apenas R$ 26
milhões com vendas de atletas.
O Furacão, por sua vez, recebeu R$ 75 milhões em direitos de TV; R$ 26 milhões com marketing; e outros R$ 25 milhões com torcida e estádio.
Endividamento
O Atlético-MG divulgou este ano balanço financeiro referente ao exercício do primeiro semestre de 2021. A dívida total do clube mineiro alcança exorbitante R$ 1,32 bilhão, sendo que R$ 487 milhões são de curto prazo.
Neste período, o Atlético-MG conseguiu quitar quase R$ 90 milhões em dívidas com a Fifa. E apresentou superávit de R$ 49 milhões, gerado em grande parte através da renegociação e parcelamento de dívidas e turbinado pelos empréstimos feitos por empresários - sem os quais as contas do clube mineiro não fechariam.
Por outro lado, em seu último balanço financeiro publicado, referente ao exercício de 2020, o Athletico apresentou superávit de R$ 134,4 milhões. Foi o sétimo ano seguido que o Furacão fechou com lucro. Somadas estas temporadas, o montante chega a R$ 370 milhões.
Sem considerar a pendência judicial envolvendo o pagamento da Arena da Baixada, o Rubro-Negro não tem nenhuma outra dívida capaz de tirar o sono dos cartolas — o Furacão possui caixa para quitar todos os seus compromissos fiscais, trabalhistas e variados. Apesar disso, o passivo do estádio já ultrapassa R$ 600 milhões, com juros e correções.
Arena MRV
Em 2017, o conselho do Atlético-MG aprovou a venda de metade do shopping Diamond Mall, na capital mineira, que pertencia integralmente ao Galo. O valor recebido foi de R$ 250 milhões. Além do valor obtido na venda do shopping, o Atlético-MG obteve mais R$ 60 milhões com a venda de naming rights para a MRV, acordo válido por dez anos.
Valores que estão sendo reinvestidos na construção da Arena MRV, sonho antigo do estádio próprio do clube alvinegro.
Quando aprovada, a obra estava orçada em R$ 410 milhões. Com reajustes, o valor já ultrapassa R$ 700 milhões, incluindo aí quase R$ 100 milhões em contrapartidas exigidas pela prefeitura de Belo Horizonte.
O clube aposta na venda de camarotes e cadeiras cativas, além do licenciamento de estacionamentos, restaurantes e espaços do estádio para conseguir pagar o restante da construção da praça esportiva. Já existem, por exemplo, acordos fechados com Ambev e Brahma. Com todos os ativos negociados até o momento, o Galo estipula já ter R$ 600 milhões garantidos para o pagamento do estádio.