“Estão se entregando”, diz Petraglia sobre SAFs de Cruzeiro, Botafogo e Vasco; leia entrevista
Clubes como Botafogo, Cruzeiro e Vasco estão “se entregando a investidores por preços absurdamente baixos”, avalia o presidente do Athletico, Mario Celso Petraglia, em entrevista ao UmDois Esportes.
Em meio às conversas do grupo Forte Futebol – formado por Athletico, Coritiba, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Ceará, Cuiabá, Fortaleza, Goiás e Juventude, agora com o apoio do Atlético-MG – visando a formação de uma liga de clubes, o dirigente do Furacão criticou os valores das primeiras negociações de clubes por meio da Lei da SAF.
Para Petraglia, essas vendas são reflexo de décadas de desvalorização do futebol brasileiro.
“Virão os investidores do mundo e comprarão, assim como compraram o Vasco por US$ 120 milhões. É o preço de um jogador”, lamentou.
O presidente rubro-negro também falou sobre a expectativa de finalmente concretizar uma liga e seu papel como “coadjuvante” nesse processo.
Leia a entrevista completa:
Esse é o momento certo para organizar a liga?
Só faz 20 anos que está atrasado. Primeiro foi criado o Clube dos 13 para se transformar em uma nova liga, aquilo virou um banco de negociar direitos de televisão, não avançou absolutamente nada. Daí caminhamos para formar uma liga no ano 2000 e acabou não saindo. Depois tivemos outras tentativas, a penúltima foi a Primeira Liga, depois tivemos mudanças na lei do Profut. No ano passado a gente tentou a criação da liga de novo.
Você vê como mais sólida a tentativa atual?
Não vejo nada diferente, vejo que surgiram propostas no mercado, de grupos querendo tomar conta do futebol brasileiro, querendo comprar participações na liga, querendo conduzir as negociações quando não se tem a menor condição, a menor ideia, porque temos uma retrospectiva desses últimos 30 anos da pior história do futebol brasileiro, que passou junto com um histórico nome da política do Brasil. Temos os últimos 30 anos dominados pelo monopólio da CBF e da Globo. Então, a valorização do nosso futebol não existiu, pelo contrário, houve uma desvalorização, preços vis, uma desunião absurda entre os clubes, incentivados pelos monopolistas, o que levou o futebol brasileiro a essa situação de insolvência. O que estamos vendo atualmente são os clubes se entregando a investidores por preços absurdamente baixos. Casos de Cruzeiro, de Botafogo, e agora do Vasco, porque nas últimas décadas o futebol brasileiro não foi trabalhado de forma profissional, em forma de valorização. Nós nunca vendemos nosso futebol para o exterior – é o melhor futebol do mundo. Nós temos um calendário que não te permite sair na esquina. Não há tempo suficiente para absolutamente nada. Então, baseado nisso, estes são os valores do futebol brasileiro. Virão os investidores do mundo e comprarão, assim como compraram o Vasco por US$ 120 milhões. É o preço de um jogador.
Um clube com uma torcida enorme…
Exatamente. Já era tempo, realmente, a gente sentiu que não iria andar, aí houve a tentativa de São Paulo e Rio de Janeiro tomarem conta da CBF, o Reinaldo [Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista] e o Rodolfo Landim [presidente do Flamengo], com uma intervenção que foi frustrada. Então, partiram para uma proposta que inicialmente não vingou, não teve investidor, e agora uma outra proposta de ser condutora dos negócios com um advisor, como buscar soluções. Os clubes não precisam disso, os clubes são autossuficientes. Então, nos organizamos, no mínimo dez, para buscarmos essa autossuficiência. Agora já somos 11 porque o Atlético-MG compartilha das mesmas ideias e veio se juntar aos dez. E, assim, vamos trabalhar para que outros considerados grandes também venham para que a gente faça a liga da forma que deve ser feita. Com uma estruturação independente, autossuficiente, para depois, sim, buscar interessados, procurar um advisor, um grupo que pesquise o mercado, que faça um valuation do que vale o futebol brasileiro – não do passado, mas do que valerá no futuro.
O bolo atual pode multiplicar quantas vezes?
Ah, não sei te dizer. Mas nós não podemos valer menos do que 10% da liga inglesa. A Premier League fatura 5 bilhões de libras [cerca de R$ 34,5 bilhões], nós faturamos US$ 300 milhões [aproximadamente R$ 1,6 bilhão]. A diferença é absurda, uma coisa triste, porque esteve na mão de interesses particulares, privados, pessoais e de corruptos.
A liga é uma bandeira antiga sua…
Assim como falava da lei do mandante, da torcida única, de mudanças que no século 21 não cabem mais do futebol romântico de antigamente.
Está próxima de se tornar realidade?
Dessa vez não é minha [batalha]. O Athletico, apesar dos pesares, apesar desse passado maldito, ainda conseguiu crescer e se tornar grande. Havia uma dúvida sobre de que lado nós estaríamos. E quem está conduzindo isso é mais o pessoal do Fortaleza, do América-MG, pessoal não considerado grande ainda. Daí eles me convidaram e eu aceitei porque não trairia minhas origens.
Qual é seu papel nesse grupo?
Coadjuvante. Nós estamos incentivando, ainda foi convite meu, que tenho um relacionamento muito próximo aos Rs do Atlético-MG, né? Tanto que meu filho está fornecendo as cadeiras para a Arena MRV, por ser o melhor produto, mais barato, contra fogo e vandalismo, né? Tenho uma amizade de longos anos com o Ricardo Guimarães. Eu fiz o contato, ele [Guimarães] concordou, me autorizou a consultar os outros dez, todos gostaram da ideia e o Atlético-MG vem para somar. Queremos que a liderança do grupo seja dele, também pela facilidade de diálogo com os outros grandes.
Existe outro grupo, formado pelos cinco paulistas (Corinthians, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Santos e São Paulo) e o Flamengo, que assinou um termo não vinculante com Codajas Sports Kapital, que acena com US$ 800 milhões por 20% da liga. Como você vê essa divisão?
Não acredito nisso. Só acredito na igualdade, na unidade, no interesse comum, no trabalho coletivo, buscando o melhor para o futebol brasileiro. E não particularmente para A, B ou C.
Vocês estão procurando agregar outras equipes?
Com certeza. A gente quer indexar a Série B também, estamos falando com o Internacional, Fluminense, Botafogo, Vasco, Cruzeiro… Nós vamos nos organizar, já temos a maioria e vamos seguir em frente. Eu acredito que com eles sabendo dos propósitos, dos princípios, das estratégias, sabendo da forma que vamos trabalhar, de igualdade, de abertura, não tenho dúvida de que o bem prevalecerá. Eles virão.
O Forte Futebol está preocupado em se estruturar primeiro, sem pensar nos valores, é isso?
Primeiro você tem de ter o instrumento, depois buscar quem dá mais, quem está mais interessado, quem valoriza mais. A gente não sabe quanto vale o produto, como é que vai vender uma coisa que não sabe quanto vale?