Com “pós” no estilo Felipão, Turra comanda Athletico em decisão contra o Palmeiras
Auxiliar do técnico de Luiz Felipe Scolari no Athletico, Paulo Turra, de 48 anos, tem “pós-graduação” no vencedor 'estilo Felipão' de futebol. Gaúcho e ex-zagueiro como o histórico treinador, ele bebeu da fonte do pentacampeão mundial nos últimos cinco anos e meio.
Nesta terça-feira (6), às 21h30, ele será a representação de Felipão no Allianz Parque, contra o Palmeiras, na tentativa de colocar o Furacão em sua segunda final de Libertadores. O ex-goleiro Carlos Pracidelli e o auxiliar permanente do clube, Wesley Carvalho, estarão ao seu lado.
Suspenso por causa da expulsão na partida de ida, semana passada, na Arena da Baixada, Scolari vê em seu braço direito um profissional pronto para o desafio.
Turra, por exemplo, já dirigiu o próprio Palmeiras à beira do gramado em duas oportunidades na campanha do título brasileiro de 2018. Mais do que isso: é a óbvia escolha de Felipão para seguir o trabalho no CT do Caju caso realmente assuma o posto de diretor técnico a partir de 2023.
“Se o Felipão segue como diretor, a pessoa mais correta para ficar na linha de frente é o Paulo [Turra]. Há uma união de pensamentos, de ideias”, atesta Flávio Teixeira, o Murtosa, fiel escudeiro de Scolari por 32 anos – hoje curtindo a aposentadoria no Rio Grande do Sul.
“Ele é uma continuação do Felipão, mas com um lado mais moderado. Todos nós temos nossa maneira de agir. O Felipão nunca mudou, é um cara reto, nunca teve medo de botar a cara. Já o Paulo é outra personalidade, mais calmo, mas tranquilo, mas que tem a linha de ação dele. Não é um cara que o pessoal vai dominar facilmente, não”, prossegue Murtosa.
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Turra entrou para comissão técnica de Felipão, então composta ainda por Pracidelli e Darlan Schneider, no fim de 2016, como sugestão do próprio Murtosa. O convite surgiu após Ivo Wortmann deixar o cargo vago no Guangzhou Evergrande, da China.
No Palmeiras, Murtosa comandou o então defensor na conquista da Copa dos Campeões de 2000, mas logo em seguida optou por seguir os passos de Scolari no Cruzeiro. A relação ficou mais próxima quando Turra atuou no Boavista, de Portugal, na mesma época em que a seleção portuguesa era capitaneada pela comissão brasileira. “Ele tinha um intercâmbio conosco, aparecia, conversava e já dizia que queria ser técnico. Eu que ele tinha perfil, que tinha que se preparar”, recorda.
Em 2011, após dar os primeiros passos como treinador por Novo Hamburgo e Brusque, estagiou no Palmeiras de Felipão até ser chamado para assumir o Cianorte no Paranaense do ano seguinte. Ficou a uma vitória do título do primeiro turno do estadual e, nos pênaltis, perdeu a vaga à Terceira Divisão para o Mogi Mirim.
“Foi um dos melhores que tivemos por aqui. Foram dois anos inteiros sem perder uma partida dentro de casa e quando mais nos aproximamos da vaga para a Série C”, cita o diretor de futebol do Leão do Vale do Ivaí, o ex-goleiro Adir Kist, que criou forte vínculo com Turra.
“Além de uma pessoa de excelente caráter, um cara do bem, é um treinador muito exigente e detalhista. Vive futebol 24 horas. Na época, não tínhamos analista e o Paulo, pessoalmente, fazia chegar nos atletas tudo que ele precisava sobre os adversários, preparava o jogo como poucos”, lembra.
Os detalhes eram tantos, aliás, que até os gandulas recebiam “orientações” do treinador, de acordo com o dirigente. Na relação com os jogadores, Turra é definido como “cuidadoso e agregador”.
“Às vezes ele mesmo era o assador dos churrascos aqui. Fazia questão disso para que o elenco se sentisse mais valorizado. Deixou legados fantásticos”, enfatiza Kist.
Depois de deixar o Cianorte, o treinador peregrinou nas divisões inferiores do futebol nacional. Passou por Operário, Marcílio Dias e Avaí, clube no qual permaneceu apenas três jogos em 2014. No ano seguinte, trabalhou no Caxias, antes de retornar ao Cianorte em 2016 para conquistar seu único título até aqui: a Divisão de Acesso do Paranaense.
Olhar detalhado de Turra para o jogo
No início deste ano, Paulo Turra lançou um livro sobre tática em parceria com Leonardo Monteiro. ‘O futebol que não se vê’ trata de ações dentro do jogo que, na maioria das vezes, passam despercebidas pelo grande público, mas podem ser de vital importância em uma partida.
Esse lado mais acadêmico do auxiliar de Felipão, aliás, foi fundamental para que ele tivesse a chance de ingressar na comissão permanente do icônico treinador. Enquanto tinha as primeiras experiências no banco de reservas, Turra sempre conciliou os estudos e estágios. Tanto que, quando foi chamado, já havia completado Licença Pro, nível máximo da CBF Academy e requisito para poder trabalhar na liga chinesa.
“Ele se credenciou, tem conhecimento e competência. Teve a felicidade de fazer o curso da CBF e desde então ficou trabalhando com o Felipão. Fez uma pós-graduação que o deixa totalmente em condições de assumir a vida solo. Está na hora, até”, acredita Murtosa.
Diferente, mas muito parecido
Em algumas entrevistas ao longo da carreira, Turra sempre reforçou que era uma profissional diferente de nomes consagrados da escola gaúcha, como Tite, Mano Menezes e o próprio Felipão. “Eu sou o Paulo Turra, técnico. Não sou cópia de ninguém, descendente de ninguém”, afirmou, por exemplo, em sua apresentação no Avaí.
Ele nunca negou, contudo, que segue filosofia semelhante – mas com métodos próprios, que não são idênticos. Gosta de times organizados e intensos, com os atletas conscientes de suas funções com e sem a bola.
“A gente é esperto, pega alguma coisinha de um ou de outro, mas eu tenho a minha própria filosofia. Meu perfil de técnico é o que exige muito dos jogadores, não sou um sargentão, que no grito exige, mas exijo muita organização dentro e fora de campo, em todos os aspectos”, explicava, oito anos atrás.
Quem trabalhou com o auxiliar, contudo, percebe uma forte linha condutora com o trabalho de Scolari, talvez reforçada pelo tempo de convívio desde dezembro de 2016 e a troca de experiências. “O Turra se assemelha muito, muito, ao Felipão. São alinhados nas questões de ideia de jogo”, garante o ex-goleiro Fernando Prass, agora comentarista dos canais Disney.
O arqueiro, que trabalhou por duas temporadas no Porco com o auxiliar técnico, conta que na época sua principal responsabilidade ficava na parte defensiva do jogo, no posicionamento da última linha de quatro e da cobertura, além das análises dos rivais.
Para Prass, contudo, a ausência de Felipão no banco de reservas no segundo jogo da semifinais da Libertadores é claramente minimizada por causa do perfil de ambos. “Óbvio que há todo o impacto da imagem do Felipão, mas em termos de ideias, conduta e postura, há muita semelhança”.