Atleticanos em SP: casal rival, torcedor pé quente e o amor que une pai e filha
A terça-feira (6) não será um dia normal na casa de Marcelo Herman e Liliana Haas. Quando deixarem Curitiba, pela manhã, eles vão partir para roteiros diferentes na despedida: o palco será o mesmo, o Allianz Parque, em São Paulo, mas em lados totalmente opostos. Ele, misturado ao verde e branco na torcida do Palmeiras, e ela em meio aos rubro-negros na torcida do Athletico. Na segunda e última parte dos 90 minutos da decisão, só um vai sair classificado para a final da Libertadores 2022.
Na expectativa para saber quem será o primeiro finalista do torneio continental em busca da taça mais desejada da América do Sul, a rivalidade vai dividir o casal. O curioso é que há sete meses os dois estavam lado a lado na mesma arquibancada. Casados há seis anos, a advogada e o analista de sistemas acompanharam a decisão do Mundial de Clubes da Fifa, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, quando o Palmeiras disputou o título com o Chelsea em fevereiro, e ficou com o vice.
“Já tínhamos ido para Dubai na nossa lua de mel, e gostamos muito do lugar. Quando o Palmeiras foi campeão da Libertadores, no mesmo dia ele disse que iria. Já combinamos que iríamos juntos, pois adoramos viajar. Quando saíram as datas, procuramos rapidamente as passagens e compramos”, relembra a advogada.
Em julho, Liliana mostrou ser pé quente. Ela esteve no mesmo palco desta terça, quando o Athletico derrotou o Palmeiras, por 2 a 0, pela 15ª rodada do Brasileirão. No setor visitante, a atleticana comemorou a vitória com gols de Vitor Roque e Vitor Bueno, e agora está confiante na classificação para a final da Libertadores. Já na última terça-feira (30), o esposo marcou presença na primeira partida, na Arena da Baixada, e viu o Furacão vencer por 1 a 0 e garantir a vantagem do empate na grande decisão.
“A expectativa é da classificação, claro! O Verdão vai pra cima desde o início, empurrado pela torcida e pelos resultados heroicos recentes. Não vai ser fácil, acho que vai ser um jogo de uma ou duas bolas só. Quem errar menos vai pra final. Arrisco talvez um 3 a 1 pra ser bem otimista, e com a bicicletinha tradicional do Rony já está de bom tamanho”, diz o palmeirense.
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Pai e filha juntos pela primeira vez em um jogo decisivo
Julio Cesar e Camila Trevisan finalmente vão realizar um sonho nesta terça-feira no Allianz Parque. Será a primeira vez que pai e filha irão assistir juntos a um jogo decisivo do Athletico. Eles estarão com outros cerca de 1.600 torcedores em São Paulo para acompanhar a partida que vale uma vaga na final da Libertadores.
Como muitos atleticanos, Camila herdou do pai a paixão pelo Furacão. Único atleticano da família, Julio costumava viajar para ver os jogos do Athletico pelo Brasil em caravanas, mas nunca conseguiu fazer o mesmo com Camila.
Em 2018, quando o Furacão decidiu a taça da Copa Sul-Americana contra o Junior Barranquila-COL, Camila estava na Arena da Baixada, mas o pai viajava pelo nordeste e perdeu a decisão. Em 2019, somente a filha foi até o Beira-Rio ver a conquista do título inédito da Copa do Brasil frente ao Internacional. E na recente final da Sula 2021, o cenário acabou se invertendo: enquanto Julio marcava presença em Montevidéu, no Uruguai, para ver a final diante do Red Bull Bragantino e comemorou o bicampeonato do torneio, Camila estava passeando pelo nordeste.
“Estou muito feliz que vou poder viver esse momento e conseguir assistir a esse jogo contra o Palmeiras com ele. Desde que aprendi a falar já sabia o hino do Athletico e cresci indo aos jogos com ele e por ele. Ganhei meu primeiro sócio de presente de 15 anos do meu pai, então, o Athletico sempre foi nossa maior ligação. Ele tem mais duas filhas e nenhuma curte futebol. Então, esse é o nosso programa de pai e filha exclusivo”, conta Camila, que também já esteve em jogos do Furacão em Itaquera, contra o Corinthians, e no Mineirão, diante do Atlético-MG.
A atleticana vai encontrar o pai em São Paulo nesta terça-feira, mas não vindo de Curitiba. Camila estava no Rio de Janeiro, curtindo o Rock in Rio, e virá de ônibus para o jogo contra o Palmeiras. E ela já tem na ponta da língua o palpite para a partida decisiva.
“Acho que se entrarmos com a mesma postura do primeiro jogo, a classificação é muito possível, sim. O placar de 1 a 0 não é uma vantagem que nos deixa confortável, mas foi um grande resultado por ser contra o Palmeiras. Estou confiante, mas com os pés no chão, e muito feliz de presenciar uma semifinal de Libertadores. Independente do resultado, sei que muita gente não conseguiu ingresso, então, antes de qualquer coisa estou feliz demais em viver tudo isso”, disse.
Outro pé quente
O torcedor Manoel Arantes, 64 anos, é daqueles que alinham todos os compromissos pessoais e familiares com as datas dos jogos do Athletico dentro ou fora de Curitiba - e até do Brasil. Fanático, ele coleciona carimbos no passaporte para ver o Furacão em campo. Já esteve, por exemplo, na Argentina (Newell’s Old Boys), Venezuela (Caracas), Uruguai (Montevidéu), Bolívia (Cochabamba) e Chile (Universidad Católica), alguns mais de uma vez. Na atual edição da Libertadores, marcou presença no jogo diante do Libertad, no Paraguai, nas oitavas de final, e recentemente em La Plata, na Argentina, contra o Estudiantes, pelas quartas.
“Sempre falo para todos da minha família: se tem algum tipo de evento, antes preciso ver a tabela para saber se posso ir. E o legal de tudo é desbravar os lugares, viajar, fazer amigos”, conta.
Presença garantida nos jogos do Furacão desde os tempos de Joaquim Américo, quando era levado ao campo ainda criança pelo avô, seu Saldanha Faria, ou pelo pai, seu Enoel Veiga Arantes, Manoel só ficou longe do Athletico por motivos de saúde. Em 2020, passou por uma cirurgia após ter um câncer de mama. Entre o longo processo de recuperação e muitas sessões de quimioterapia, precisou ficar afastado dos jogos em meio à pandemia.
O torcedor já esteve no Allianz Parque em outras três oportunidades - e em todas viu o Palmeiras sair de campo derrotado. Primeiro, acompanhou a vitória do Furacão em 2017, pelo Brasileirão, por 1 a 0, com gol de Thiago Heleno. Na mesma semana, o time paulista perdeu nos pênaltis para o Barcelona de Guayaquil-EQU, pelas oitavas de final. E, por último, esteve na vitória sobre o Palmeiras, por 2 a 0, em julho, pelo Brasileirão.
"O Athletico jogou super bem, o Vitor Bueno fez a melhor partida dele no clube aquele dia. E o Roque estava impossível. Confesso que eu já tinha ido meio ‘preparado’ para uma derrota, mas o Athletico surpreendeu e jogou bem demais”.
Nesta terça, valendo uma vaga na final, seu palpite é um empate, resultado que favorece o Furacão para garantir presença na decisão do título.
“Eu estou bem otimista quanto à classificação. Acho que dá pra passar, sim. Criticam e falam do Felipão, mas ele ‘amarra’ os caras. Pena que não poderá estar no banco. Acho que vamos nos classificar com um empate e com um gol daqueles no último minuto, para sofrer um pouco”, ri seu Manoel, que estará no Allianz Parque acompanhado pela esposa, irmã, o filho e a afilhada.
Seu Manoel - e outros milhares de atleticanos -, espera retornar para Curitiba com a classificação na bagagem. E desde já, quem sabe, separar o passaporte para um carimbo inédito: Guayaquil, no Equador.
Palmeiras e Athletico fazem o jogo de volta da semifinal da Libertadores 2022 às 21h30 desta terça-feira (6), no Allianz Parque. Após ter vencido a primeira partida, por 1 a 0, na Arena da Baixada, com gol do volante Alex Santana, o time de Felipão tem a vantagem do empate para voltar à final da América após 17 anos. O Palmeiras terá que vencer por dois gols de diferença para ser finalista ou um para levar a decisão para os pênaltis.
Quem passar de Palmeiras x Athletico enfrentará na final o vencedor de Flamengo x Vélez Sarsfield - na ida, o time carioca goleou por 4 a 0 na Argentina.