Rei do superávit, rebaixado Athletico sofre impacto financeiro milionário
O rebaixamento do Athletico no ano de seu centenário não só vira chacota com os rivais, mas também causa um grande prejuízo financeiro aos cofres do clube.
Após dois anos batendo recordes de superávit, com R$ 47,6 milhões em 2022 e R$ 383,2 milhões em 2023, o Furacão terá problemas. Se somados os valores da premiação da Copa Sul-Americana (que o time chegou até as quartas) e do Brasileirão, são mais de R$ 32 milhões descartados na receita de 2025.
Para o jornalista Erich Beting, do Máquina do Esporte, especializado na área de negócios, são três as principais perda de receitas: direitos de transmissão, premiações esportivas e venda de atletas.
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"O Athletico inflou a arrecadação, principalmente por performance esportiva, indo bem no Brasileiro e na Libertadores, e também por venda de atletas. Estando na Segunda Divisão, essa receita cai brutalmente", pontua.
Beting cita o Santos, que vendeu atletas para diminuir a folha de pagamento e conseguiu o retorno com o título da Série B. No entanto, lembra que o Furacão é especializado em fazer grandes vendas, em um contexto diferente: antes, o clube não precisava das vendas e negociava jogadores em alta.
Um exemplo claro disso é a saída do goleiro Bento, que se tornou a maior transferência da posição do futebol brasileiro. O Athletico acredita que Mycael poderia superar o valor de Bento, mas a queda para a Série B pode fazer o jogador de 20 anos, que está no radar de um gigante europeu, seja vendido por menos.
"O clube precisa vender jogadores porque a arrecadação vai cair. Então vai precisar adequar a folha salarial a uma nova realidade, se não quiser ter prejuízo. Ou se falar 'não tem problema, vou com esse time para subir rápido de volta para a Série A' e não precisa desse dinheiro, vai ter prejuízo no ano. É uma decisão que vai tomar e ser puramente matemática", analisa Beting.
Queda nos direitos de transmissão
A Rede Globo, que paga os valores de premiação por colocação no Brasileirão, tenta negociar com a Liga Forte União (LFU) os direitos de transmissão dos jogos da Série A do Brasileirão de 2025 no Premiere. Vale lembrar que o Furacão está fora do acordo nos últimos anos com base na Lei do Mandante, desde a Medida Provisória do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Não dá para dizer com certeza quando o Athletico perde, mas as linhas de receita que mais perde são TV, patrocínio e a receita em bilheteria que pode vir a cair, dependendo de como a torcida abraçar na Série B", avalia.
No que diz respeito aos valores de mídia, o Athletico cai em uma emboscada. Isso porque, a partir de 2025, os direitos de transmissão serão negociados com os grupos criados – LFU e a Libra.
Apesar de estar presente na LFU, a Série B é uma competição que rende muito menos dinheiro, por ser menos atrativa.
"No componente em 2025, ainda tem o diferencial de ter dois grupos econômicos, a Libra e a Liga Forte União, e não ter sido definida com o será a venda da Série B. Essa venda de direitos de Série B, até pelo que se apresenta, será muito baixa em termo de valores e naturalmente, quem estiver lá, vai perder muito dinheiro em relação a quem estava na Série A", aponta Beting.
O especialista ainda aponta que outros dois fatores são fundamentais nas quedas de receitas: patrocínio e bilheteria. Vale lembrar que, com a campanha do #PactoRubroNegro, o Athletico teve cinco jogos seguidos com mais de 40 mil torcedores e renda acima de R$ 1 milhão, algo jamais visto anteriormente na história do clube.
"Soma-se a isso uma diminuição de arrecadação com o estádio, com jogos menos atrativos e até valores mais baixos para tentar atrair mais público. Dependendo do contrato de patrocínio, você tem menor valor se tiver na Série B", pontua o jornalista.
Athletico fica fora de torneios continentais
A queda para a Série B significa a ausência nas competições internacionais. O Athletico disputava a Libertadores e a Sul-Americana nos últimos oito anos seguidos. Em 2024, o clube conquistou R$ 16,2 milhões de premiação na Sula.
Foram R$ 4,6 milhões por participar da fase de grupos e mais R$ 2,3 milhões por cada uma das quatro vitórias na primeira fase (Rayo Zuliano, dentro e fora de casa; Danubio, fora; e Sportivo Ameliano, fora). Vale lembrar que os triunfos durante a fase de grupos representam um bônus pago pela Conmebol.
Além disso, a entidade pagou ao Athletico mais R$ 2,6 milhões pela participação nos playoffs, em que superou o Cerro Porteño, e mais R$ 3,1 milhões de premiação por passar pelo Belgrano nas oitavas de final. Para completar, o Athletico recebeu mais R$ 3,6 milhões por chegar às quartas, em que foi atropelado pelo Racing.
Furacão perde premiação do Brasileirão
De forma irônica, o rebaixamento faz com que o Athletico deixe de receber a premiação por lugar obtido no Brasileirão. Detalhe: por decisão do próprio Furacão.
Em 2021, o Athletico foi o único dos 20 clubes da Série A que rejeitou a nova proposta de divisão da premiação do Campeonato Brasileiro. O veto manteve a regra de que as equipes rebaixadas em cada edição do torneio não participem da divisão da premiação.
"O grande ponto da decisão de 2020 do Athletico era o cenário que pensar em queda era pouco provável. Cada clube estava vendendo seus direitos individualmente. Além disso, você tinha uma situação de total fragmentação em tudo", analisa Beting.
Caso terminasse essa edição na 13ª posição, colocação máxima que o clube poderia alcançar com a vitória sobre o Atlético-MG, o clube iria faturar R$ 17,8 milhões.
Já se terminasse em 16º lugar, fora da ZR, o valor seria de R$ 16,3 milhões – confira a premiação completa por colocação.
"O Athletico votou naquela visão que acreditava que nunca ia ter problema para ele. Mas o mundo dá volta e essa decisão pode atrapalhar o clube. Só deixa claro para mim o quanto o futebol precisa pensar de forma igualitária na questão de divisão de receita dos campeonatos que se disputam", aponta Erich Beting.
Além disso, Betting destaca que esse pensamento egocentrista atrapalha na arrecadação de todos os clubes.
"Não é individualmente no que cada um arrecada, mas sim no que o bolo todo pode arrecadar, o quanto de dinheiro se deixa de arrecadar porque não tem um pensamento conjunto e o quanto os clubes deixam dinheiro na mesa quando agem dessa maneira egoísta, só pensando neles. Em algum momento, isso volta contra", completou.