Equipes ofensivas, rotatividade no elenco e pressão no adversário: como jogam os times de Osorio?

Equipes ofensivas, rotatividade no elenco, jogo posicional e pressão no adversário... essas são algumas características dos times de Juan Carlos Osorio, 62 anos, novo técnico do Athletico. O colombiano terá o primeiro contato com o elenco rubro-negro neste sábado (6) na reapresentação atleticana no CT do Caju.
Com mais de 20 anos de carreira no futebol, entre auxiliar e treinador, Osorio teve experiências desde o futebol inglês ao egípcio - seu último trabalho - e ganhou seis títulos. Todas as taças foram na Colômbia, sendo cinco pelo Atlético Nacional e uma pelo Once Caldas. Mas o que esperar do Furacão de Osorio? O UmDois Esportes traz algumas ideias e conceitos usados pelo técnico.
Juan Carlos Osorio é um entusiasta do jogo posicional - explicamos mais sobre o método em uma reportagem sobre Domènec Torrent, que também era alvo do Furacão -, mas não se limita a isso e mostra muita versatilidade e peculiaridades na montagem de suas equipes. Em seu livro "O Caderno de Osorio, meu modelo de gerenciamento", de 2015, cita que em nomes como Alex Ferguson, Louis Van Gaal, Marcelo Bielsa e Pep Guardiola "encontrou cúmplices e inspirações na construção de sua ideologia futebolística".
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Ainda no livro, o novo comandante do Athletico diz que se identifica muito com o esquema 4-3-3. Mas em seus times é possível ver variações, adotando principalmente um 3-3-1-3, com um losango no meio de campo e sempre com um dos laterais ou um volante fazendo saída de "três" - movimento até já característico do Furacão na temporada passada, com Esquivel atuando mais recuado, por exemplo.
Osorio também gosta da amplitude do campo, usando os atacantes como "extremos". A pressão no adversário, tanto na fase ofensiva, como na defensiva, são marcas das equipes do treinador. "El profe" trabalha com nove princípios de jogo, divididos quando a sua equipe tem a posse de bola e quando não tem. Veja abaixo:
- Com a posse - ataque organizado: 1- início e saída, 2- circulação, 3- amplitude e 4-profundidade/penetração; transição defesa-ataque: 5- ataque de espaços.
- Sem a posse - defensa organizada: 6- concentração defensiva; 7- pressão (ofensivo e ultra-ofensivo); transição ataque-defensa: 8- recuperação imediata depois de perdida, 9- dobra/ajuste.
"Osorio é um daqueles treinadores que pode não ter uma carreira repleta de títulos, mas deixa um legado extremamente positivo por onde passa, faz pensar, refletir, alegra e até 'irrita' com suas loucuras", explica Leonardo Miranda, analista e colunista do ge.com.
"Em termos táticos, seus times normalmente adotam uma saída de bola com um volante entre os zagueiros, ao menos dois jogadores muito abertos para abrir e dar amplitude ao campo e outros cinco meias/atacantes próximos do ataque, recebendo bolas em profundidade. Ele gosta que os zagueiros peguem, carreguem a bola e cheguem no ataque. Adora pontas que driblam a partir do lado e normalmente posiciona esses pontas como os 'alas' do 3-2-5 que seu time forma atacando", completa Miranda.
Raí Monteiro, jornalista do canal Band Sports e do perfil Taticamente Falando no Twitter, acrescenta que o treinador gosta que seu atletas façam mais de uma função em campo, até mesmo usando-os improvisados.
"Os times dele, de uma forma geral, são times que gostam de ter muito a bola, agressivos na marcação e que pressionam muito o adversário. Até acho que neste sentido, ele terá peças aí que podem ajudar muito, até no sentido de improvisar, como aconteceu com o Cuello jogando de ala na temporada passada. Não sei se utilizará três zagueiros, não é muito a plataforma de trabalho dele, ele gosta mais do 4-3-3. Mas pode ser que ele utilize, até porque é um cara bem flexível com o elenco, ao que o elenco oferece de uma forma geral", afirma o jornalista.
Rotatividade do elenco
Outra marca do treinador é a alta rotatividade no elenco. No São Paulo, em 2015, por exemplo, chegou a ficar mais de 15 partidas sem repetir uma escalação. A rodagem no elenco foi uma das críticas da torcida para o treinador. Mesmo assim, teve uma passagem positiva no clube paulista e tem maior aprovação do que rejeição por lá.
"O trabalho dele foi bem curto no São Paulo, fez um trabalho durante o Brasileirão e na Copa do Brasil. O elenco também não oferecia muita coisa, até teve que improvisar em algumas funções, lembro que utilizou o Carlinhos, lateral-esquerdo, de ponta. O Pato também jogou de ponta", diz Raí Monteiro.
"É um cara que não repete escalação, muda muito de um jogo para o outro, dentro dos jogos, tem forte essa filosofia que todos são titulares, sem um 11 definido, vai depender muito do adversário, característica do jogo, do campo, montar muito nessa base. Ele sofreu um pouco no São Paulo com essa rotatividade, mas muito por uma questão cultural nossa, nós não estamos adaptados a times que variam tanto, como em outro lugares. E essa é uma das características bem marcantes dele", acrescenta Monteiro.
O tema rotatividade do grupo também é assunto de um capítulo do livro, onde novamente Osorio cita inspiração em Alex Ferguson. A questão do entrosamento não é problema para colombiano, já que ele defende que todos os jogadores do elenco precisam se sentir parte do time e estarem na mesma rotação. O conceito divide opiniões e, às vezes, gera desconforto entre os atletas.
"Você treinava um dia na lateral e no outro de centroavante. Ele ia dormir e sei lá o que dava na cabeça dele, ele mudava tudo. Teve um clássico São Paulo e Santos, eu treinei titular, fui como titular para a preleção, cheguei no vestiário e eu estava no banco. Ele inventava muito", declarou o lateral Michel Bastos, em entrevista Charla Podcast no YouTube.
Preparação física e treinamentos intensos
O colombiano, que começou a carreira como preparador físico, tem um estilo característico de comandar seu clubes. Osorio chega ao Athletico apenas com dois auxiliares técnicos: John Arango e Francisco Ocho.
O comandante é muito exigente e aplica treinos longos. Osorio faz questão de acompanhar o dia a dia do atleta e dá treinamentos de muita intensidade, trabalhando as situações de jogo. Desta forma, ele acredita que, na hora da partida, é o próprio jogador que precisa saber solucionar as adversidades dos 90 minutos.
"Sou um pioneiro no método de treinamento que faço com as equipes que dirijo. Creio que todo preparo de um jogador deve estar fundamentado no jogo, em situações do jogo e na preparação física também deve seguir esse caminho", disse Osorio à Conmebol em 2015, quando ainda estava no Atlético Nacional.
"Acredito que o trato de preparar minha equipe da melhor maneira e na hora do jogo, vai depender do jogador, que saiba resolver, que se lembre do praticado. Há uma fórmula que cria a palavra PIDE que indica que ele jogador deve Perceber, Identificar, Decidir, Executar. Eu, como treinador, como estrategista, devo estar atento para corrigir algo que não esteja saindo como havíamos previsto", completou.
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A carreira de Juan Carlos Osorio em números, com mais de 650 jogos:
- Millonarios (2006): 19 vitórias, nove empates e 14 derrotas em 42 jogos (52%)
- Chicago Fire (2007): sete vitórias, sete empates e quatro derrotas em 18 jogos (51%)
- New York (2007 a 2009): 14 vitórias, 15 empates e 30 derrotas em 59 jogos (32%)
- Once Caldas (2010 a 2011): 48 vitórias, 24 empates e 28 derrotas em 100 jogos (56%)
- Puebla (2012): duas vitórias, dois empates e sete derrotas em 11 jogos (24%)
- Atlético Nacional (2012 a 2015): 126 vitórias, 59 empates e 52 derrotas em 237 jogos (61%)
- São Paulo (2015): 12 vitórias, sete empates e nove derrotas em 28 jogos (51%)
- Seleção do México (2015 a 2018): 33 vitórias, nove empates e 10 derrotas em 52 jogos (69%)
- Seleção do Paraguai (2018 a 2019): um empate em um jogo (33%)
- Atlético Nacional (2019 a 2020): 20 vitórias, 18 empates e 12 derrotas em 50 jogos (52%)
- América de Cali (2021 a 2022): 15 vitórias, 11 empates e 23 derrotas em 49 jogos (38%)
- Zamalek (2023): 12 vitórias, cinco empates e cinco derrotas em 22 jogos (62%)