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Bolinha nunca fez gol, mas é ídolo e testemunha da revolução do Athletico; veja entrevista

Por
Fernando Rudnick
08/12/2020 13:25 - Atualizado: 29/09/2023 21:17

Aposentado oficialmente no fim de outubro após 27 anos de serviços prestados ao Athletico, o massagista Edmilson Aparecido Pinto, 61 anos, é daqueles que ganhou o direito ser chamado de patrimônio do clube.

Mineiro de Varginha, Bolinha chegou a Curitiba em novembro de 1993, depois de rodar por 12 clubes pequenos em Minas Gerais, São Paulo, e Paraná. Mas a história de quase três décadas no Furacão, onde virou referência e ídolo da torcida, por pouco não terminou em apenas duas semanas.

"Com 15 dias eu pedi para ir embora", revela Bolinha, em entrevista ao UmDois Esportes – veja a íntegra no vídeo acima.

"Eu vi que o clube não tinha condições. Faltava tudo, às vezes não tinha água para tomar banho, não tinha gás pra tomar um banho quente no vestiário. Eu pedi pra ir embora", conta o massagista, que foi convencido a permanecer pelo então diretor de futebol, Jesus Vicentini, e pelo médico Edilson Thiele.

Bolinha, em 2009, antes de um Atletiba. Foto: Rodolfo Buhrer/Gazeta do Povo
Bolinha, em 2009, antes de um Atletiba. Foto: Rodolfo Buhrer/Gazeta do Povo

O Athletico era outro. Muito antes de resgatar a letra H no nome e de ser invejado pela estrutura de primeiro mundo vista no CT do Caju e na Arena da Baixada, o clube nem sequer tinha onde treinar.

Bolinha era o último remanescente do tempo de vacas magras. Da época em que ou você enchia o tanque do ônibus que levava os jogadores aos campos de várzea, ou garantia almoço e janta todo mundo.

"Às vezes não se treinava no outro dia porque não tinha roupa seca. Se chovia, o time ficava sem treinar", recorda.

Mas Bolinha também é sinônimo de vitória. Com ele sempre de pé na lateral do campo, o time venceu a Série B, em 1995, e finalmente retornou à elite do futebol brasileiro. Depois, o Rubro-Negro também conquistou o Paranaense, em 1998, e a Seletiva da Libertadores, em 1999.

No mesmo ano, em 20 de junho, o clube inaugurou a Arena. "Sem contar os títulos, o momento mais especial foi a inauguração da Arena. Estádio lotado contra o Cerro Porteño. As equipes entraram em campo, as autoridades e eu lá no fundo. O estádio ficou de pé me chamando, gritando meu nome. Eram tantas luzes que eu não sabia pra que lado olhar", diz.

Bolinha ao lado de Madson. Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo
Bolinha ao lado de Madson. Foto: Walter Alves/Gazeta do Povo

A conexão com a torcida é algo realmente fascinante para alguém que não pode balançar a rede. Na opinião do massagista, a idolatria foi conquistada jogo a jogo, conversando com quem estava na arquibancada, brincando com a criançada.

Certamente os clássico piques para o pronto atendimento aos atletas no gramado também contaram pontos, assim como a vez em que ele ajudou a salvar a vida de um torcedor cardíaco com um desfibrilador.

O momento mais triste? 28 de novembro de 2004, em Erechim, garante Bolinha. No jogo contra o Grêmio, o líder Athletico deixou uma vitória por 3 a 0 se tornar um amargo empate por 3 a 3. O resultado influenciou diretamente na perda do Brasileirão para o Santos.

Bolinha atendendo Washington, em 2004. Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo
Bolinha atendendo Washington, em 2004. Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo

Para o torcedor, o mais difícil foi em 2011. "Tive o rompimento de uma úlcera, fiquei entre a vida e a morte. Foram 45 dias na UTI, 25 no quarto. Depois fiz a recuperação no CT. Cheguei com o time caindo. Foi bem dolorido ver aquilo e não poder fazer nada. Ao mesmo tempo, eles tinham que me ajudar, me reerguer. Devo muito ao Athletico", reconhece o massagista, que voltou permaneceu trabalhando por anos no Caju, mas longe das viagens e jogos.

O retorno aconteceu em 2018, após pedido especial do presidente Mario Celso Petraglia. "Cheguei na reunião e estava toda a diretoria e o Fernando Diniz. O Petraglia me chamou e perguntou se estava pronto pra trabalhar, se eu queria voltar. Eu falei: depende do senhor", lembra.

O título brasileiro, em 2001, Bolinha já tinha visto de perto. Não poderia ser diferente nas outras duas principais conquistas da história atleticana.

Bolinha é homenageado em jantar de aniversário do Athletico. Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo
Bolinha é homenageado em jantar de aniversário do Athletico. Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

"Parece que estavam esperando eu voltar. Foram duas conquistas excepcionais, da Sul-Americana e da Copa do Brasil", agradece o agora ex-massagista do Furacão, que saiu em meio à pandemia – sem se despedir de ninguém.

"Mas prometi ao presidente que quando tivesse uma vacina, a torcida voltasse ao estádio, vou em um jogo na Arena como forma de reconhecimento e agradecimento", fala o mineiro mais paranaense que já passou pelo CT do Caju.

Nada mal para quem pensou em desistir depois de 15 dias de trabalho... E o "Bolinha do Athletico", em breve, vai virar almofadinha vendida na loja oficial. Para nunca mais deixar a Baixada sem se despedir.

"Que reconhecimento, né? O clube, o marketing, através do presidente fazendo essa homenagem pra mim".

Bolinha comemora o título da Copa do Brasil, no Beira-Rio. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.
Bolinha comemora o título da Copa do Brasil, no Beira-Rio. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo.

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Fernando Rudnick é formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação esportiva. Sempre repórter, começou a cobrir o dia a dia dos times paranaenses em 2009, quando entrou na Gazeta do Povo. Atualmente, é coordenador do UmDois Es...

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