Episódio final: Um 2022 com muita paz
A primeira coisa que me ocorreu ao chegar na
festa dos campeões de 2001 foi: isso aqui não é nostalgia, é história em
movimento.
O evento, com seus 800 litros de chope e 80 caixas de uísque, pagode e singelas homenagens coincidia com o primeiro jogo da final da Copa do Brasil, em Belo Horizonte, entre Athletico e Atlético-MG.
Levamos uma invertida forte lá, uma pena, mas faz
parte.
O que importa é que não éramos um bando de
sujeitos velhos olhando com saudade para a aurora das nossas vidas. Não, porque
a ideia força que nos unia naquele lugar está em plena expansão. 2001 foi o
começo e não o fim de alguma coisa.
Tudo isso era impensável para o menino que
começou a entender o que era o futebol em 1985. Antes, já frequentava os
estádios no ombro de gigantes e ficava hipnotizado pela festa das torcidas e
pelos personagens fantásticos que compunham o cenário.
No título de 1985, porém, quando invadi com meu pai e irmãos o gramado da Baixada nasceu o inquebrantável sentimento de pertencimento recíproco. O Athletico é meu e pode contar comigo até eu morrer.
Mas meu timing foi péssimo. No dia seguinte, o clube fechou a Baixada e se mudou para o Pinheirão. Toda aquela festa ensolarada do título paranaense sobre o Londrina e a emoção transgressora de invadir o campo com milhares de malucos tinham sido o ato final de uma era.
No Pinheirão me formei como torcedor. Como era o
que tínhamos, eu adorava tudo aquilo e guardo as melhores lembranças
adolescentes dos rigores do nosso “tosco lar”. Em retrospectiva, contudo, sei que
nossa torcida passou por uma provação bíblica obrigada a errar por aquele
deserto durante anos.
Não foi nada fácil crescer nos pátios de colégios
e campinhos de pelada e ser sacaneado por vizinhos e colegas que no meio de
qualquer discussão apontavam para o pentagrama dourado bordado em cima do
distintivo.
Mas o tempo gira sua roda. Aprendi que na vida alguns sinais de êxito e opulência tentam se impor quando, no fundo, tudo já decaiu. Aquele dourado que me incomodava tanto era a luz de uma estrela cadente.
Em 2001, como vimos, muita coisa precisou dar certo ao mesmo tempo. E nesta conjunção sobrenatural – somada a visão e trabalhos de pessoas extraordinárias – não só antecipamos nosso título como catapultamos uma história que ainda vai longe.
Nem tudo foram flores nestes 20 anos. No país, a
economia e a política deram várias piruetas, a sociedade aprendeu coisas novas
e esqueceu outras.
Em campo, tivemos grandes reveses, Erechim à frente de todos. Em algum momento, o clube e a torcida se dividiram. Caímos. Voltamos. Refizemos a Baixada duas vezes. Teve Copa. A cerveja foi proibida, mas voltou. Nos acostumamos a jogar a Libertadores e nos últimos três anos, a levantar taças pesadas para fazerem companhia ao troféu que o capitão Nem ergueu em São Caetano naquela tarde, há 20 anos.
E que sentimento bom, perversamente bom, é esse de ter passado e futuro. A um só tempo celebrar nossa maior glória, mas com a impressão viva de que a gente ainda nem começou. Um 2022 com muita paz.
Sandro Moser é jornalista, escritor, autor da biografia "Sicupira - Vida e gols de um craque chamado Barcímio". Convidado pelo UmDois Esportes, o atleticano encarou o desafio de recontar a odisseia atleticana que completa 20 anos.
Leia todos os episódios da série especial sobre os 20 anos do título do Athletico de 2001
Veja fotos exclusivas do Athletico de 2001!
https://www.instagram.com/p/CXycepFtXTK/https://www.instagram.com/p/CXyeUvfNIAC/https://www.instagram.com/p/CXyfCQBtAyy/