20 anos da estrela

Episódio 2: O time (com mais bandidos)

Por
Sandro Moser, especial para UmDois Esportes
22/12/2021 13:03 - Atualizado: 04/10/2023 17:06
Episódio 2: O time (com mais bandidos)
| Foto: Arquivo/GRPCOM

Na virada do século, quando começou a sair de cena o velho football association para a ascensão do soccer bussines, os mapas de calor e estatísticas já começavam a fazer a diferença nos softwares que rodavam no Windows XP do CT do Caju, mas não tanto como hoje em dia.

Já a estratégia do clube para montar seu elenco, porém, era muito parecida com a atual: caprichar na formação de base, prospectar jogadores promissores em clubes de menor expressão e fazer apostas eventuais em jogadores com potencial técnico, mas escanteados em seus clubes por alguma questão e que aqui poderiam ter espaço e condições para deslanchar.

Falando com os caras do plantel campeão, vários apontaram uma figura fundamental deste processo: o elegante ex-cartola Antônio Carletto Sobrinho, o olheiro craque do país daqueles dias.

Carletto em foto de 2008. Arquivo GRPCOM
Carletto em foto de 2008. Arquivo GRPCOM

Foi ele que em 1998 indicou três jovens dos juniores do Botafogo de Ribeirão Preto, o atacante Lucas (cuja venda milionária financiou o ano de 2001), o zagueirão rock’n’roll Gustavo Caiche e o volante Cocito, que nasceu para jogar no CAP. Mas havia outros olheiros e uma direção que entendia de bola.

Mas o certo é que o processo de prospecção de atletas do Athletico entre 1995 e 2001 também foi revolucionário. Havia um colegiado de dirigentes como Ademir Adur, Ennio Fornea e, principalmente, o diretor da base, Paulo Abagge, que montou uma rede de contatos e informantes pelo país.

Foi assim que, entre 1995 e 2001, o Athletico conseguiu garimpar talentos que ninguém viu como Adriano e Flávio (CSA), Kléber (Motoclube) e tantos outros, entre eles boa parte do elenco que foi campeão em 2001 a preços bons em baratos.

O pessoal diretamente envolvido estima que o clube arrecadou cerca de 60 milhões de dólares entre 1995 e 2002 só com a venda de jogadores marcados com o selo atleticano.

Lucas e Kléber em 1999. Arquivo/GRPCOM
Lucas e Kléber em 1999. Arquivo/GRPCOM

De resto, Kléberson surgiu nas canteiras do clube num projeto de parceria bem-sucedida com o PSTC, da região de Londrina, que abasteceu de craques o Athletico na primeira metade da década de 2000. Outros jovens do elenco eram Igor, Ivan, Dagoberto e Daniel.

Ilan, revelado pelo Paraná, veio do São Paulo. Rogério Corrêa, silenciosamente, de Goiás, e os laterais Fabiano e Alessandro, que estava sendo convocado para a seleção brasileira em 2001, eram remanescentes de 2000. No banco ainda, o maranhense Pires e o carioca Douglas Silva, "madeira de dar em doido" e o meia cearense Geraldo, que parecia veterano, mas tinha apenas 27 anos.

As duas maiores apostas foram em Nem e Souza.

Souza (foto abaixo) foi a cereja do bolo. O meia canhoto era um grande e mal compreendido craque. Sua contratação não obedecia a lógica de negócios do clube. Grande batedor de falta, fosse vindo do banco ou jogando, Souzinha era o luxo daquele time. Decisivo, fez seis gols na campanha.

Souza, ao centro. Arquivo/GRPCOM
Souza, ao centro. Arquivo/GRPCOM

Nem (foto abaixo) era uma aposta de risco. Muito bom tecnicamente, naquele momento era estigmatizado no país por ser muito violento e inconstante. Tinha perdido mercado em São Paulo, mas vinha de um ano excelente com o Paraná onde foi líbero de Geninho. Aqui brilhou, bebeu, brigou e comandou a conquista e levantou o caneco. Depois bateu no peito e disse cheio de razão "sou o melhor líbero do Brasil".

Arquivo/GRPCOM
Arquivo/GRPCOM

Como a maioria dos grandes craques rubro-negros, Alex Mineiro chegou sem alarde como parte de uma troca com o Cruzeiro. Felipão queria (porque queria) o volante Marcus Vinícius e incluiu o carrasco dos coxas Luisinho Netto no pacote.

De lá, a Raposa mandou o volante Donizete Amorim (autor do gol do título paranaense de 2001) e o Athletico queria o meia Paulo Isidoro. O jogador, revelado pelo Vitória, estava voltando de lesão e jogou franco com o Furacão: melhor não arriscar.

Foi então que Donizete Amorim sugeriu outro mineiro como ele, chamado Alexander Pereira Cardoso, mais conhecido por Alex. O centroavante tinha perdido espaço lá, pois o Cruzeiro abriu o cofre para contratar Edmundo. O Animal não se criou em Belo Horizonte. Já Alex Mineiro nos deu o título, recuperou nossa capacidade de sonhar e refundou o orgulho e sentimento atleticanos. Que troca, senhoras e senhores.

Arquivo/GRPCOM
Arquivo/GRPCOM

Um elenco bom e barato. Um time de macacos velhos e jovens com fome de bola e boêmia. Nem de longe o favorito ao título na visão dos especialistas para quem o campeonato ficaria entre o Vasco de Euller e Romário, o Flamengo de Petkovic, o Cruzeiro de Edmundo e Rincón ou mesmo a sensação São Caetano. Todos, com exceção do Vasco, foram devidamente atropelados pelo Athletico.

E quando o time levantou o caneco, o técnico Geninho sacramentou:

“Foi o time campeão com mais bandidos”.

Sandro Moser é jornalista, escritor, autor da biografia "Sicupira - Vida e gols de um craque chamado Barcímio". Convidado pelo UmDois Esportes, o atleticano encarou o desafio de recontar a odisseia atleticana que completa 20 anos.

Leia todos os episódios da série especial sobre os 20 anos do título do Athletico de 2001

Veja fotos exclusivas do Athletico de 2001!

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