Antes de ser Bigode, atacante Willian chegou ao Athletico em “liquidação” há 17 anos
Durante praticamente um ano, entre 2005 e 2006, o Athletico trouxe quase um time inteiro de jogadores do Guarani, que estava à beira da insolvência, afundado em uma crise financeira.
"Foi uma oportunidade de mercado, uma liquidação", recorda o então presidente João Augusto Fleury da Rocha em entrevista ao UmDois Esportes.
Chegaram ao CT do Caju, entre categorias de base e time principal, nomes como os zagueiros João Leonardo, Paulo André, Juninho e Xandão, o volante Roberto, os meias Simão e Netinho, e os atacantes Jonatas e Willian.
O último, de 19 anos, era considerado um bom valor, mas não chamava a atenção dentro do pacotão vindo de Campinas. Baixinho e ágil, Willian, que mal tinha pelos faciais, apresentava desempenho bastante irregular, algo comum para a idade.
"Pelo que me lembro, ele veio para disputar a posição, era um jovem promissor. Na época, tínhamos essa política de investimentos em jovens, então trouxemos", argumenta Fleury, que viu a aposta flopar em três temporadas no Furacão.
Dezessete anos depois, o mesmo atacante baixinho que não emplacou duas décadas atrás retorna ao CT do Caju em circunstâncias bem diferentes. E com a missão de escrever uma nova história.
Willian, que hoje não se separa do apelido Bigode, voltará a vestir a camisa rubro-negra aos 36 anos de idade. Em meio à uma tempestade na vida pessoal, onde virou protagonista de um escândalo envolvendo investimentos em criptomoedas, buscou abrigo no bunker do CT do Caju, junto com velhos conhecidos: o técnico Paulo Turra, o agora diretor Felipão e o dirigente Alexandre Mattos, com quem trabalhou no Palmeiras.
"Estou retornando a um clube onde joguei em meu início de carreira, que também tem uma torcida apaixonada, que investiu muito em estrutura nos últimos anos e hoje é referência no Brasil. O Athletico conta com profissionais de alto nível – tive o privilégio de trabalhar com alguns – e busca grandes conquistas. Sei que tenho condições e quero contribuir para seguir essa caminhada de sucesso", resume Willian, na nota em que se despediu do Fluminense.
Lesão e empréstimos
Os cinco gols marcados logo no ano de estreia pelo Rubro-Negro, em 2006, foram os melhores números que o avante produziu com a camisa atleticana.
"Eu acompanhei a carreira dele assim que chegou. E a gente via que ele era um menino no meio dos homens, tanto que orientei o pessoal do serviço social do clube a dar uma atenção especial. Foi o bastante para que os jogadores chamassem ele de meu filho, diziam que o presidente adotou um lá no CT", brinca Fleury.
Ainda em 2006, Willian rompeu ligamento cruzado do joelho esquerdo, o que o tirou de combate por um longo período, comprometendo a maior parte da temporada seguinte.
Em 2008, chegou a ser titular algumas vezes com o técnico Ney Franco, mas nunca teve uma longa sequência de jogos. Na Copa do Brasil, ficou marcado por errar um dos pênaltis na vexatória eliminação em casa diante do Corinthians-AL, ainda na primeira fase do torneio.
"Eu pensei muito em largar tudo. Foi uma fase muito difícil. Meu pai chegou a ir para Curitiba conversar comigo sobre meu futuro. Ele me disse para olhar para trás e ver pelo que já tinha passado para estar ali. Então, decidi continuar. Deu tudo certo, felizmente", disse o jogador, anos depois, em entrevista ao ge.globo.
Fora dos planos do Athletico, Willian passou a ser emprestado pela diretoria seguinte, comandada pelo presidente Marcos Malucelli. Primeiro para o Vila Nova (2009) e depois para Figueirense (2010).
No time de Florianópolis, porém, o atacante despontou com 25 gols em 47 jogos, desempenho que atraiu o Corinthians, para onde foi em fim de contrato. Lá, ganhou destaque, conquistou o Brasileirão e, no ano seguinte, fez parte do grupo campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes.
"Quando saímos do clube, ele ainda tinha contrato, mas acabou sendo emprestado depois. Quando terminou o período no Figueirense, o clube deu passe livre para ele, e até hoje não sei o por quê", lamenta Fleury.